21 de agosto de 2023
Por – Tatiana Rosa Cequinel, CEO da Embraed Empreendimentos, especial para Neo Mondo
Por força das mudanças climáticas e das demandas das sociedades, torna-se a cada dia mais intenso o avanço da agenda ESG (fatores ambientais, sociais e de governança). Há desafios para as empresas de todos os setores, mas são ainda maiores para a construção civil — em especial no Brasil. Operando com mão de obra intensiva, gestão de matérias-primas e de resíduos e com extensa cadeia de fornecedores, as incorporadoras e construtoras brasileiras aos poucos se dão conta da magnitude do trabalho. É um caminho sem retorno. E é necessária uma revolução.
Essa revolução requer uma grande mudança da nossa parte — muito mais, portanto, do que um conjunto de iniciativas isoladas, por mais que sejam positivas. É necessária — e urgente — uma transformação da cultura corporativa, que sustente seus efeitos por décadas. O trabalho baseado nas premissas ESG deve estar internalizado no negócio. Por exemplo, no ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), apenas duas empresas fazem parte.
Essa nova estrutura para nosso setor tem vários aspectos. Do ponto de vista ambiental, demanda cuidados adicionais com os recursos naturais envolvidos nas obras e a gestão dos resíduos que geram. As construções precisam ser pensadas em termos de eficiência energética, ao mesmo tempo em que oferecem aos usuários conforto e opções para compostagem de resíduos orgânicos, por exemplo. Ao redor do mundo, diferentes certificações já atestam as boas práticas nesse sentido. Nos Estados Unidos, empreendimentos com uma determinada certificação oferecem aos compradores descontos em impostos prediais, numa relação de ganha-ganha entre clientes, empresas e poder público.
Da perspectiva das empresas, só há vantagens em incorporar a agenda ESG à sua cultura no sentido de ser e estar em uma nova era, exigente e com sentido de urgência. Refletindo essa nova exigência, cada vez mais os bancos incluem questões de sustentabilidade nos filtros para empréstimos. Tende a pagar menos juros quem oferece mais em termos de cuidados com o ambiente e com os impactos sobre o entorno — e isso acontece também no Brasil, onde os bancos já vem estruturando programas de financiamento “verdes”.
Se pagam menos juros nessa dinâmica, as construtoras podem repassar essa vantagem para os seus clientes finais. Clientes que, por sua vez, demandam produtos e serviços que tenham impactos mais amenos sobre o ambiente e que tenham sido produzidos e desenvolvidos com respeito aos direitos humanos. Nesse ponto, nosso setor tem um desafio ESG ainda maior que os de outros segmentos, pelo tamanho da sua cadeia de fornecedores — seja de matérias-primas, seja de mão de obra. Devemos, cada vez mais, nos empenharmos no monitoramento e no engajamento desses parceiros.
Construtoras e incorporadoras estão entre as empresas que mais geram empregos no Brasil, exercendo impacto direto no desenvolvimento socioeconômico. Uma vez alinhado às práticas ESG, nosso setor tem tudo para participar da liderança dessa revolução. Basta trabalharmos em prol de uma ampla mudança de mentalidade, para que os empreendimentos sejam pensados para durar e construídos com extremo cuidado com as pessoas e com os impactos que geram ao seu redor.
Artigo publicado no portal Neo Mondo
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