Elie Horn, fundador da Cyrela, lança livro e fala em difundir doação de fortunas
Obra “Tijolos do bem — reflexões do fundador da Cyrela” conta trabalho de Horn em estimular a filantropia; empresário também é a favor do aumento de impostos sobre riqueza
Elie Horn, fundador da Cyrela, lança pela editora Sêfer o seu primeiro livro. A obra é uma mistura de autobiografia com passagens sobre a importância da filantropia e histórias de entidades que foram ajudadas pelo empresário nas últimas décadas.
“Tijolos do bem — reflexões do fundador da Cyrela” foi feito com o objetivo de atrair mais pessoas a “fazerem o bem”, afirma Horn. Em coletiva de imprensa sobre o lançamento do livro, ele define o conceito de fazer o bem como “a essência da vida”, que pode ser “um sorriso, ajudar um pobre, um hospital”.
Horn e a sua esposa Susy foram os primeiros brasileiros a aderir ao The Giving Pledge, iniciativa dos bilionários Warren Buffet e Bill e Melinda Gates para que ricos doem pelo menos metade de suas fortunas para causas sociais, ainda em vida. Ele já havia se comprometido a doar 60% de sua riqueza ainda em 1984.
Em coletiva de imprensa para o lançamento do livro, Horn afirma que a doação está em andamento. Há um comitê que ajuda a definir quais são as entidades beneficiadas. Para o empresário, o segredo para “diminuir a dor” em dar sua fortuna foi colocar os 60% em uma reserva à parte. “Quando aceitei doar, [o dinheiro] não era mais meu”, diz.
É o que ele tenta incentivar outros empresários a fazer, nem sempre com sucesso. “É um instinto humano de preservação”, pondera.
Questionado sobre propostas para aumentar a tributação sobre grandes fortunas, Horn afirma ser a favor, contanto que o recurso seja usado em causas sociais. “Se o imposto não vai para o bem, a coisa muda”.
Ele elogiou o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), que considera uma iniciativa “ótima”. A Cyrela atua diretamente no programa há 5 anos, com a marca Vivaz.
O empresário afirma ser otimista com o futuro. Ao mesmo tempo, prestes a completar 80 anos, diz já ter visto diversas crises no país, ações subirem e descerem, e que “é triste” como o tempo passa e não há mudança no sistema.
Para ele, o país precisa de continuidade em suas políticas sociais e também gastar menos do que arrecada. “A saúde econômica de um país, o Banco Central, são verdades em si mesmas, se você mexe, apanha”.
A Argentina estaria conseguindo seguir esse caminho, segundo Horn, com o governo Milei. A austeridade foi elogiada pelo empresário, porque seguiria “as regras clássicas da economia”, com queda da inflação. “Argentina está apanhando há 30 anos, agora colocaram um cara com a cabeça no lugar”, diz. “Mesmo que seja um pouco rígido demais, o país vai se salvar”.
Ele tem uma relação próxima com o país vizinho. Sua esposa, Susy, morou e fez faculdade de Medicina no país, e o casamento foi em Buenos Aires. Horn também teve sociedade com o grupo argentino IRSA, que resultou na Brazil Realty, companhia de capital aberto incorporada à Cyrela em 2002. A Cyrela fez seu IPO em 2005 e hoje é a maior incorporadora de médio e alto padrão do país.
No livro, Horn afirma considerar que atingiu a independência financeira com a abertura de capital.
O empresário nasceu na Síria, mas viveu também no Líbano e na Itália antes de chegar ao Brasil, aos 11 anos. Aos 19, começou a trabalhar com seu irmão, Joe, vendendo goma laca e soda cáustica. Depois, fundaram uma imobiliária, e, juntos, passaram a comprar e revender apartamentos. Para comprar, usavam dinheiro emprestado de bancos ou de amigos.
No livro, Horn relata como recorreu a ajuda de amigos em diversos momentos, inclusive na sua formação universitária.
Já com a agenda cheia pelo trabalho, ele seguiu o conselho de um amigo de que seria melhor ter um diploma e se formou em Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie, graças à ajuda de colegas e de um professor.
A ascensão nos negócios foi rápida, durante a década de 1960 e 1970. Em 2023, sua fortuna era avaliada em R$ 3,1 bilhões, segundo o ranking da revista Forbes.
Desde que decidiu doar 60% do seu dinheiro, Horn tenta convencer outros empresários a fazer o mesmo, e dá a dica de como atingir mais pessoas: em vez de pedir doação para uma causa que ele apoia ou para o seu próprio instituto, incentiva os empresários a doarem uma porcentagem dos lucros para entidades que eles mesmos escolham, para evitar suspeitas sobre a destinação.
A Cyrela doa 1% do seu lucro e tem desde 2011 o Instituto Cyrela. A empresa orienta que companhias nas quais tem participação também façam doações. É o caso da Plano&Plano, incorporadora na qual a Cyrela tem 33,5% de participação e que fundou, na quinta-feira (27), um instituto próprio, com meta de doar R$ 1 milhão em seu primeiro ano.
Em depoimento no livro, Efraim Horn, filho de Elie e copresidente da Cyrela, afirma que mesmo que a “bandeira do bem” levantada pelo pai possa parecer “ingênua”, é eficaz. “Se, por um lado, trazer o assunto do bem a todo momento pode parecer inconveniente, na realidade as pessoas acabam sendo influenciadas”, diz.
O empresário está afastado de funções administrativas na Cyrela há 10 anos, quando cedeu espaço para Efraim e Raphael, também seu filho. Eles dividem a presidência. O terceiro filho de Horn, Jonathan, é diretor-financeiro da CashMe, fintech de crédito imobiliário do grupo Cyrela.
Hoje, Horn é copresidente do conselho da incorporadora e também atua em “negócios alternativos”, fora da área imobiliária. “Não vou parar nunca, só se ficar gagá ou morrer”, afirma.
“Tijolos do Bem” começou a ser planejado no início de 2020, juntamente com a escritora Sarita Mucinic Sarue, mas levou quatro anos para ser concluído. “Ter um livro é como ter um filho, leva tempo, você fica nervoso”, afirma, acrescentando que não queria fazer algo de autopromoção, “sem conteúdo”.
Se a primeira obra der certo, já existem ideias para as próximas, também sobre “fazer o bem”.
Fonte: Valor Econômico
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