27 de junho de 2022
O isolamento social imposto pela pandemia ampliou a demanda por moradia com espaços amplos e próximos à natureza, mas sem deixar os grandes centros urbanos. De olho nesse nicho de alto valor, incorporadoras de São Paulo e do Rio —as duas capitais mais populosas do país— investem em terrenos para construir casas de condomínio com ares de vila. Os imóveis, contudo, se diferenciam dos construídos próximos a indústrias nas décadas de 1940 a 1960. As novas plantas são personalizadas para atender ao estilo de vida de cada comprador.
Casas modernas do condomínio Cube Inc. na Vila Mariana no conceito das antigas vilas residenciais - Rubens Cavallari/Folhapress
[/caption] No Rio de Janeiro, segundo Nayara Técia, CEO da ON Brokers, famílias de alta renda estão investindo nessas casas para ter maior qualidade de vida. "Percebi que muitos milionários começaram a gastar logo o dinheiro com medo de não viver tanto. É um trauma da pandemia", conta. Há ofertas em diferentes configurações. Algumas casas são sem vaga de garagem, mas com ofurô no terraço. Já outras contam com piscina e quadra de futebol no próprio jardim. "Ainda assim, o valor cobrado pelo condomínio é 30% menor em média, nem se compara à taxa de apartamentos, por mais alto padrão que o condomínio de casas seja", afirma Técia. A D2J Construtora, que nos últimos anos investiu em imóveis compactos, acaba de aprovar a compra de dois terrenos para a construção de condomínios com 20 casas na Tijuca (zona norte do Rio). Juntos, os projetos somam quase 10 mil metros quadrados. "A venda será por a partir de R$ 2,1 milhões. Casas no miolo do condomínio terão valor maior, por ficarem mais distantes da rua", afirma Daniel Afonso, diretor da empresa. Ele afirma que já tem compradores interessados, e alguns pretendem deixar suas coberturas para morar em uma casa. Os condomínios da D2J também não terão área comum. Toda área de lazer ficará dentro de cada casa. "Haverá só portaria e segurança. Isso diminui muito o valor do condomínio", diz Afonso. Ainda com uma oferta menor do que no Rio, até por falta de terreno disponível, São Paulo segue a tendência, mas sem deixar de lado suas marcas de arquitetura urbana. Antigamente, o que caracterizava uma vila era cada unidade habitacional possuir seu próprio vaso sanitário, um local para repouso, sala de estar e cozinha. Já em meados do século 20, de acordo com estudo da arquiteta e urbanista Solange Moura Lima de Aragão, algumas casas passaram a ter sala de jantar, edícula no quintal e cuidado com o visual das fachadas. Segundo o arquiteto Ricardo Trevisan, doutor em urbanismo pela USP (Universidade de São Paulo), somente em 1994 foi elaborada uma lei com proposta de vilas residenciais. Então apareceram as casas geminadas. A legislação, diz o arquiteto, buscou atender a uma grande valorização na década de 1980 por esse tipo de moradia na capital paulista. Quatro décadas depois, a Cube Inc. optou por fazer uma releitura do conceito das casas de vila na capital paulista e já tem 13 projetos, alguns com unidades 100% vendidas. "Minha ideia foi fazer um produto de alto desejo e de baixíssima oferta, e eu queria pegar terrenos que ninguém quer por vários motivos, como o zoneamento ou a dificuldade de ampliar para um prédio", diz o fundador da Cube, Octávio Moreira. As transações da empresa são todas por meio de permutas. O dono de um terreno bem localizado que não consegue ou não deseja construir faz uma oferta e, em troca, recebe algumas das unidades. O layout interno considera a fase de vida do morador e pode ser alterado a qualquer momento, por ser de drywall. Fazer parte desse nicho numa cidade com vasta área construída tem um preço. Para comprar uma dessas casas é preciso desembolsar de R$ 700 mil a mais de R$ 2 milhões, de acordo com o valor do metro quadrado do bairro. "Com a pandemia, todo mundo voltou a querer morar em casa, ter aquele espaço para tomar sol. Não temos espaço para jardim, mas temos rooftop, o que faz muito sucesso", diz Moreira. Se o objetivo é investir, o vice-presidente da Rede Imóveis, Paulo Celles, diz que a locação deve recuperar em torno de 0,5% da aplicação para ser um bom negócio. "Não existem armadilhas. O que é preciso é fazer uma boa leitura do mercado imobiliário", afirma Celles. Relatório divulgado pela Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) no dia 14 de junho aponta que, mesmo com a alta na Selic (taxa básica de juros), a venda de imóveis no país segue em crescimento. Para o presidente da Abrainc, Luiz França, os empreendimentos atraem cada vez mais compradores e investidores que buscam proteger seu patrimônio da inflação.
Fonte: Folha de S.Paulo
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