25 de novembro de 2024
Em Georgetown, a 48 km ao norte de Austin, Texas, nos Estados Unidos, cinco impressoras robóticas levam a um novo patamar o poder da impressão 3D na construção civil: um bairro inteiro construído a partir dessa tecnologia. Batizado de Wolf Ranch, ele deve ser o maior bairro impresso em 3D no mundo, com 100 casas. O projeto é fruto de uma parceria entre a Icon, startup texana especializada em impressão 3D em larga escala, e a Lennar, uma construtora de moradias americana.
O projeto demonstra a evolução da tecnologia, originalmente conhecida pelo uso na fabricação de protótipos e objetos em pequena escala. Mais rapidez, menor custo e uma dependência menor de mão de obra estão entre as vantagens elencadas em comparação aos métodos construtivos tradicionais. “Onde havia talvez cinco equipes diferentes para construir um sistema de parede, agora temos uma equipe e um robô. Isso traz muita eficiência ao mercado comercial”, afirmou Conner Jenkins, gerente sênior de projetos da Icon em entrevista à Reuters.
Como as casas do bairro impresso em 3D foram construídas?
Imagem cedida pela empresa ICON
O processo de impressão das casas começa com a mistura de pó de concreto, água, areia e outros aditivos, que é então bombeada para a impressora. Em seguida, semelhante à forma como acontece com um tubo de pasta de dente, essa mistura é liberada, depositando o concreto, camada por camada, em um caminho pré-programado. Esse método resulta em paredes com um acabamento que imita o efeito de veludo cotelê.
Após a impressão e posicionamento de todas as paredes, e com a fundação e os telhados de metal instalados por meio de métodos convencionais, a equipe realiza a instalação de portas, janelas e acabamentos. O processo de construção é executado com o auxílio de cinco impressoras robóticas, cada uma com 14 metros de largura e 4,75 metros de altura, capazes de construir casas de até 278 metros quadrados em aproximadamente três semanas, de acordo com informações da Icon.
As residências do bairro impresso em 3D variam de 140 m² a 195 m², todas térreas, oferecendo de três a quatro quartos e dois a três banheiros. O projeto apresenta oito opções de planta, permitindo que cada casa tenha um toque personalizado. Os interiores são modernos e aproveitam ao máximo a luz natural, graças às grandes janelas, além de contar com um layout aberto que integra a sala de estar e a cozinha.
Imagem cedida pela empresa ICON
Cada casa também vem equipada com painéis solares, promovendo maior eficiência energética, e inclui tecnologia de casa inteligente, como campainha de vídeo, fechaduras operadas por Wi-Fi e termostato inteligente.
Paredes impressas em 3D prometem durabilidade e conforto
Imagem cedida pela empresa ICON
As paredes de concreto impressas em 3D são projetadas com tecnologia avançada para oferecer resistência a uma variedade de desafios ambientais. Elas são impermeáveis e resistentes a mofo e cupins, tornando-as uma opção duradoura para os climas variados e, por vezes, severos, do Texas. Além disso, proporcionam isolamento térmico, mantendo o interior das casas fresco e confortável, mesmo nas altas temperaturas típicas da região.
Entretanto, uma característica a se considerar é a espessura das paredes, que pode interferir na qualidade do sinal de internet sem fio. Para contornar essa limitação, foram instalados roteadores em locais estratégicos dentro das casas. Essa medida garante que o sinal de Wi-Fi seja forte em todos os cômodos, permitindo que os moradores se conectem facilmente à internet.
Os imóveis do bairro impresso em 3D estão disponíveis para compra com preços que variam entre US$ 450 mil e US$ 600 mil, o que se traduz em aproximadamente R$ 2,5 milhões a R$ 3,3 milhões. A demanda tem sido significativa, com mais de um quarto das 100 casas que estão em fase de construção já vendidas, refletindo o crescente interesse por soluções habitacionais inovadoras.
Do maior bairro impresso em 3D do mundo ao espaço
Além do Wolf Ranch, a Icon está expandindo suas operações no Texas com projetos que utilizam a tecnologia de impressão 3D de forma inovadora. Um desses projetos é o Wimberley Springs, um empreendimento residencial que combina a eficiência construtiva da impressão 3D com a natureza local. O objetivo é criar um ambiente sustentável, onde os moradores possam desfrutar de amplos espaços verdes e uma conexão com o meio ambiente, ao mesmo tempo que aproveitam os benefícios de uma construção rápida e econômica, proporcionada pela tecnologia.
Outro destaque é o El Cosmico, um hotel de acampamento que está em processo de expansão e tem previsão de conclusão em 2026. Com um design futurista, o projeto trará soluções arquitetônicas pioneiras, graças à impressão 3D em larga escala. Essa tecnologia permitirá a criação de estruturas como cúpulas, arcos, abóbadas e formas parabólicas, desafiando os limites dos métodos tradicionais de construção.
Além das novas acomodações, o El Cosmico manterá parte dos elementos característicos da propriedade original, como os trailers e tendas, que serão integrados a novas facilidades. O empreendimento contará com restaurante, piscina, spa e áreas comunitárias compartilhadas.
No entanto, as ambições da ICON vão além da Terra, já que a empresa também planeja, literalmente, imprimir bairros em outros planetas e satélites. Em 2022, a ICON firmou um contrato de US$ 57,2 milhões (cerca de R$ 314 milhões) com a NASA para desenvolver tecnologias que permitam a construção de estruturas habitáveis por meio de impressão 3D fora do planeta Terra.
Um novo horizonte para soluções habitacionais sustentáveis
Imagem cedida pela empresa ICON
Uma das principais vantagens da impressão 3D na construção é a significativa redução de custos. O processo automatizado, aliado ao uso eficiente de materiais, gera economias expressivas. Segundo um estudo da McKinsey & Company, a economia pode ser de até 30%, tornando-a uma solução atraente tanto para projetos residenciais quanto comerciais, em resposta ao déficit habitacional em muitos países conjugado com a falta de mão de obra.
O Fórum Econômico Mundial destaca que a impressão 3D, aliada à construção civil, oferece uma solução promissora para tornar o setor mais sustentável. Atualmente, a produção de cimento é a terceira maior responsável por emissões de CO2 no mundo. Além disso, a mineração de cimento causa graves danos ambientais, e a extração de areia, essencial para a produção de concreto, está se tornando cada vez mais difícil à medida que a demanda supera a oferta.
Diante desse cenário, o Fórum enfatiza a importância de descarbonizar o processo de construção. Segundo a organização, em vez de apenas adaptar tecnologias tradicionais, o momento requer a exploração de novos materiais inovadores que possam reduzir o impacto ambiental do setor. “O progresso exigirá colaboração entre reguladores e líderes da indústria, que devem se envolver ativamente para garantir que vários padrões sejam atualizados em relação ao uso de materiais de construção alternativos feitos usando impressão 3D ou outros meios. Talentos de tecnologia em startups podem estar mais dispostos a interromper o modelo conservador da indústria e podem provar ser uma força motriz do desenvolvimento sustentável”, disse o órgão em nota oficial.
Impressão 3D na construção já chegou no Brasil
No Brasil, onde a necessidade de habitação acessível é significativa, essa tecnologia pode oferecer soluções para diversos desafios enfrentados no setor. Na cidade de Nova Lima, em Minas Gerais, um protótipo de casa impressa em 3D está em exposição, completo com acabamentos, louças e mobiliário. O empreendimento foi desenvolvido pela Cosmos 3D em parceria com o Grupo Katz, utilizando uma técnica que emprega microconcreto. Esse material foi escolhido por sua alta resistência, durabilidade e eficiência, resultando em construções mais econômicas e robustas.
O primeiro imóvel da Cosmos 3D foi vendido por R$ 120 mil e será construído na região da Costa do Descobrimento, na Bahia. Com uma área de 57 m², a casa inclui sala, cozinha, banheiro e dois dormitórios, com a possibilidade de adaptar um dos quartos como escritório.
A impressora utilizada na construção dessa casa é uma máquina de quase três toneladas, 11,91 metros de comprimento, 6,58 metros de largura e 4,22 metros de altura. O grande diferencial está na automação. Controlada por um software e um robô, a impressora se destaca pelo alto nível de precisão, praticamente eliminando o desperdício de materiais durante o processo. O tempo total para a construção do primeiro modelo foi de apenas oito dias. Destes, quatro dias foram dedicados à impressão da estrutura, dois para a montagem e outros dois para acabamentos e decoração. Apesar de toda a inovação, o projeto ainda requer uma fundação tradicional, conforme informa o Grupo Katz.
Essa combinação de automação e precisão demonstra o potencial da impressão 3D para transformar o setor da construção, oferecendo uma solução rápida, econômica e sustentável para a demanda por habitação.
Fonte: Habitability
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