8 de junho de 2023
O futuro já chegou a alguns municípios que estão colocando em prática soluções que até pouco tempo atrás pareciam apenas uma realidade nos livros e filmes de ficção científica. A tecnologia tem sido utilizada para transformar as cidades em ambientes mais inteligentes e funcionais para as pessoas. Com as projeções de crescimento da população mundial – até 2050 devem ser mais 2,2 bilhões de habitantes –, as localidades precisam encontrar formas de atender às novas necessidades desses residentes em relação à infraestrutura, moradia e lazer.
Além disso, o número de carros também deve ter um incremento nos próximos anos, inclusive os elétricos. No País, a frota eletrificada, em 2022, chegou a 126.504 automóveis, conforme a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (Abve), e a expectativa da entidade é de elevação desse patamar em 2023. Somente no ano passado foram emplacadas 49.245 unidades, um aumento de 41% em comparação com o total de 2021, que foi de 34.990. Todas essas mudanças terão reflexos nos municípios que deverão buscar iniciativas que aprimorem as áreas urbanas e ofereçam experiências mais ricas para os cidadãos ao mesmo tempo que reduzam o impacto ambiental e tragam mais segurança.
Nesse sentido, diversos lugares do planeta estão testando inovações que vão desde o uso de Inteligência Artificial (IA) para análise de metadados das vias e controle da iluminação pública e dos estacionamentos até o carregamento de veículos elétricos enquanto eles são dirigidos, diminuição das ondas de calor e mecanismos para que as calçadas sejam mais flexíveis, permitindo uma rápida adaptação às demandas de construção, de trânsito e de modificação de funções. Levantamento efetuado pela Câmara de Smart Cities da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) e pela Academia Fiesc de Negócio aponta que o mercado global de tecnologias voltadas para modernizar e deixar as cidades mais inteligentes deve saltar dos 511,6 bilhões de dólares atuais para 1 trilhão de dólares em 2027. Conheça algumas das medidas que já estão sendo testadas na Europa, Estados Unidos e no Brasil.
Inteligência Artificial auxilia na verificação de estacionamentos em pontos proibidos
Uma ação reunindo o departamento de transportes de Nova York (EUA) e a empresa Hayden AI, realizada em 2022, empregou um software de percepção alimentado com Inteligência Artificial (IA) para coletar e avaliar metadados das ruas da localidade. Os objetivos eram identificar carros estacionados ilegalmente nas faixas de ônibus e aperfeiçoar a circulação nas vias públicas, relata matéria da CNN. Os sensores abastecidos por IA podem capturar informações como a velocidade dos automóveis, volume de tráfego e marcas e modelos dos veículos e, a partir disso, processar os dados e otimizar o fluxo e diminuir os engarrafamentos e acidentes em tempo real.
Para o fundador e CEO da Hayden AI, Chris Carson, essa solução irá revolucionar a forma como os planejadores urbanos e administradores públicos desenvolverão municípios inteligentes. A companhia, que tem sua sede nos Estados Unidos, usa inteligência artificial e aprendizado de máquina para tornar o trânsito mais eficiente e as ruas mais seguras e sustentáveis.
Carregamento de veículos elétricos sem fio e durante o deslocamento
Diante dos desafios da transição energética e descarbonização da economia e do transporte, o número de carros eletrificados deve crescer nas próximas décadas estimam organizações nacionais e internacionais do setor. Uma das barreiras para o maior incremento desse segmento continua sendo a necessidade de abastecimento ao longo de extensos trechos. A implementação de faixas de estradas e vias eletrificadas possibilitará que os automóveis sejam recarregados sem fio enquanto se movimentam. A startup alemã Magment está na vanguarda de iniciativas nesse campo, segundo a CNN.
A companhia de tecnologia está elaborando almofadas de transferência de energia produzidas com materiais reciclados para serem integradas às rodovias e ruas das cidades. Já o diretor comercial da italiana 20energy, Marco Krieziu, afirmou que uma das inovações da empresa “recupera energia cinética e calor da passagem dos veículos sobre sua superfície e a converte em eletricidade que pode ser autoconsumida no mesmo espaço ou realimentada na rede”.
Detroit (Michigan, EUA) está se preparando para adotar essa solução na região central da localidade, adianta outra reportagem da CNN. Para isso, o departamento estadual de Transporte está discutindo um acordo com a companhia Electreon, de Israel, para a edificação de uma via de cerca de um quilômetro e meio que viabilize o carregamento dos carros quando eles estiverem se deslocando. Com a previsão de ser construída perto da Estação Central de Michigan, essa seria a primeira rua dos Estados Unidos que permitiria o carregamento dos automóveis sem fio. Isso seria possível através da instalação de carregadores indutivos postos sob a superfície asfáltica.
Uma das dificuldades enfrentadas para a disseminação dessa tecnologia são os custos envolvidos. O valor dos veículos sofreria um grande acréscimo para conter, além de uma porta de cabo para o abastecimento padrão, um equipamento que possibilite o carregamento sem fio. A criação de um sistema de cobrança nas estradas para oferecer esse serviço também elevaria os gastos dos motoristas.
Sistemas de gestão melhoram iluminação pública e mobilidade no Brasil
Medidas inovadoras estão sendo instaladas em distintos municípios do País para deixar a iluminação das ruas, o fluxo de carros e a segurança nos ambientes urbanos mais eficientes. Na capital de Pernambuco, por exemplo, a prefeitura investiu em torno de R$ 5 milhões para montar um sistema de telegestão da iluminação pública da cidade. Até o final deste ano, a perspectiva do governo é ter mais de 50 mil dispositivos conectados.
O programa Ilumina Recife prevê a qualificação do serviço por meio da programação dos horários de funcionamento das lâmpadas de acordo com as áreas e vias contempladas, otimização da manutenção dos postes através do acompanhamento em tempo real, durante o período diurno, e identificação de casos que mostrem falta de energia e/ou furtos de cabos. No ano passado, a localidade possuía mais de 8,1 mil aparelhos de telegestão (são 106,2 mil no total) e 100% da sua iluminação em LED. O município espera uma economia de R$ 1,5 milhão ao ano com a ação.
A redução do consumo de energia elétrica é outra vantagem da implementação de iniciativas que tornam as cidades mais inteligentes. Em Vila Velha (ES), houve uma diminuição de aproximadamente 64% no valor gasto pela prefeitura com iluminação pública. As mais de 37 mil luminárias de LED da localidade (50% delas são acompanhadas pelo sistema de telegestão nas ruas de trânsito mais intenso do Centro de Controle Operacional) são gerenciadas por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP) firmada com o Consórcio SRE-IP – composto pelas empresas Splice, RT Energia e Engelmig Energia –, que venceu o leilão para administrar a estrutura em 2020.
Essas companhias são responsáveis por modernizar e otimizar o parque de iluminação do município, pela manutenção e pela iluminação dos principais patrimônios culturais de Vila Velha. Mais segurança e indivíduos ocupando os lugares à noite, como praças, parques e áreas verdes da cidade, são outros benefícios da solução e permitem ainda que o comércio, bares e restaurantes funcionem até mais tarde, movimentando a economia.
Já em Albertina (MG), o Consórcio Smart CPGI (Consórcio Público para Gestão Integrada), que faz a administração, operação, modernização, otimização, expansão e manutenção de mais sete localidades de Minas Gerais, instalou uma muralha eletrônica que possibilita o monitoramento do tráfego e da segurança, fornecendo informações precisas sobre veículos que circulam por uma determinada região. Isso é feito por meio da leitura das placas. Foram colocadas também câmeras de videomonitoramento 360 graus, estação meteorológica e internet livre em vários pontos do município.
Vias modulares são testadas na Holanda e Bélgica
Garantir que as cidades vão conseguir se adequar rapidamente às alterações necessárias para responder ao aumento da população é a meta das estradas modulares ou “quebra-cabeças”, como descreve a matéria da CNN. Com peças que remetem às de lego, essa tecnologia permite montar e desmontar de maneira ágil as ruas para atender às novas demandas de trânsito, construção ou a casos de emergência. Esse tipo de medida já está sendo usada em ciclovias da Holanda e da Bélgica. Feitos de plástico reciclado, esses módulos contam com canais ocos em seu interior para captar, filtrar e armazenar a água da chuva em vez de mandá-la diretamente para o esgoto como faz o pavimento comum. Esses canais podem receber tubos, cabos telefônicos e fiação elétrica, aprimorando a infraestrutura dos espaços.
A primeira dessas vias inteligentes foi criada na localidade holandesa de Zwolle, em 2018, pela companhia Plastic Road, contribuindo para resolver um problema de enchente recorrente. Conforme a empresa desenvolvedora da inovação, mesmo no período de chuvas fortes, nenhuma água ficou na ciclovia. Além disso, análises demonstraram que o trecho de 30 metros de comprimento suportou todas as condições e cargas pesadas que passaram por ele desde a sua colocação e revelou uma economia de carbono de em torno de 52% em relação a uma ciclovia tradicional.
Rua inteligente gera energia em Londres
As caminhadas dos pedestres produzem energia elétrica na via inteligente implementada no Centro de Londres (Inglaterra), detalha reportagem do ArchDaily. A Bird Street foi transformada em um ambiente sem carros para que as pessoas tivessem uma nova e sustentável experiência ao fazer compras na área, que fica perto da famosa Oxford Street. Para isso, a companhia Pavegen usou painéis cinéticos de pavimentação para converter os passos dos indivíduos em energia.
Um aplicativo também foi elaborado para os cidadãos acompanharem informações confiáveis sobre o quanto de energia estavam gerando. Referida como a primeira rua inteligente do mundo, ela foi construída em 2017 e a energia produzida abastece as lâmpadas LED das vias próximas e transmissores Bluetooth e alto-falantes que emitem sons de pássaros para estabelecer uma atmosfera mais tranquila no lugar.
Tecnologia como aliada no combate às mudanças climáticas
Outro exemplo de utilização da inovação para melhorar os espaços urbanos e a qualidade de vida das pessoas é o “pavimento frio” que contribui para diminuir a temperatura das ruas e reduzir os efeitos das ilhas de calor, que se formam pelo ar quente que fica preso entre os edifícios. O município de Phoenix (Arizona), em conjunto com a Arizona State University, está com um projeto-piloto de aplicação de um tratamento asfáltico à base de água que é posto sobre o pavimento já existente nas vias.
Feita com asfalto, água, sabão, polímeros e materiais reciclados, essa solução inteligente funciona como uma espécie de protetor solar e reflete uma parcela maior da luz do sol que recebe, absorvendo menos calor. Segundo a prefeitura de Phoenix, esse revestimento tem o potencial de compensar o aumento das temperaturas noturnas na região em que foi adotado. Após um ano de sua implementação, em 2021, a cidade verificou que, em todos os momentos do dia, as temperaturas da superfície das áreas com o produto eram mais baixas que em comparação com o pavimento tradicional.
Fonte: Movimento Somos Cidade
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