15 de agosto de 2022
A chegada da tecnologia à construção civil é um caminho sem volta. E apesar de a pesquisa “Transformação Digital: O Futuro da Construção Conectada”, realizada pela Autodesk em parceria com a IDC em 2020, ter apontado o Brasil como o país com menor nível de maturidade tecnológica na indústria civil em comparação a outras 11 nações da Europa, das Américas e da Ásia, a pandemia acelerou o processo de digitalização nos canteiros de obras nacionais. De acordo com um levantamento feito pela plataforma Prospecta Obras, unidade digital de negócios da Prospecta Analytica com mais de 10 mil cadastrados, entre lojas de insumos, construtoras e prestadores de serviços, 73% das empresas do setor não tinham presença digital ativa em 2020. No ano seguinte, porém, o número caiu para 22%, o que mostra que o segmento despertou para a urgência – e os benefícios – da adoção de tecnologias no processo construtivo. A própria Prospecta Obras viu o reflexo disso, com um crescimento de 19% no número de novas obras registradas em todo o País durante os dois anos de pandemia, em relação a 2019. Ferramenta de gestão inteligente de dados que mapeia e conecta obras em andamento com lojistas, a plataforma apresentou um crescimento de 90% em 2020 e de 120% em 2021, chegando a um faturamento de R$ 15 milhões no ano. “A gente faz uma ponte de quem está construindo, seja qualquer tipo de obra, reforma ou construção, com quem vende produtos e serviços para essa área”, explica Wanderson Leite, CEO e fundador da Prospecta Analytica. Com um trabalho focado na geolocalização de cada construção, os parceiros comerciais presentes na plataforma são direcionados para atender às demandas de cada empreendimento, priorizando fatores como a qualidade dos produtos e o custo-benefício do contratante, segundo ele. A plataforma também conecta os profissionais do setor para auxiliar nas obras, levando a um mapeamento personalizado e acelerando todo o processo de cotações.
Assertividade desde o início
Atuando na etapa da pré-obra, o 3F Group cresceu 70% em 2021 com seus softwares de engenharia. De acordo com o CEO, Antonio Fascio, as soluções são baseadas em três pilares: reduzir o tempo gasto, diminuir o custo e aumentar a precisão nos processos de engenharia de custos. Ele conta que atualmente a empresa tem três soluções no mercado – OrçaFascio, para pequenas e médias construtoras, OrçaFascio Prime, que tem como público-alvo grandes empresas e órgãos públicos, e Plugins -, todas com o objetivo de integrar dados com as soluções da Autodesk, tornando todo o trabalho mais rápido e inteligente. “Não importa com qual tipo de obra nosso cliente trabalhe, ao criar orçamentos com as nossas soluções ele fará isso até 8 vezes mais rápido, com uma interface simples e fácil de usar, acesso às bases de preço mais usadas do País atualizadas automaticamente e inteligência artificial que aprende enquanto ele utiliza”, diz. Para quem elabora projetos em 3D, o empreendedor fala que é possível reduzir o tempo de atividades que demoram normalmente quatro horas para um clique. “Sempre que apresentamos nossos plugins, o que ouvimos é que parece mágica. São horas de trabalho resumidas a segundos”, diz. “E o projeto 3D já está integrado com o orçamento, ou seja, cada alteração no projeto gera uma atualização do orçamento. Sem retrabalho, sem desperdício de tempo e sem erros humanos.”
Análise digital de terrenos e volumetria
Com o intuito de acelerar o trabalho de incorporadoras e construtoras em São Paulo e Porto Alegre na prospecção de terrenos, a plataforma Place, do Grupo Ospa, inseriu recentemente duas novas funcionalidades que unificam os processos em um único ambiente digital. A primeira é um marketplace para a venda de terrenos, criado em parceria com a empresa Terreno Livre, que filtra e faz uma análise completa das opções na região selecionada pelo usuário; a segunda ferramenta faz a análise de volumetria em tempo real – solução inédita no Brasil, com apenas duas concorrentes no mundo, na Austrália e no Canadá. “O foco é gerar estudos de viabilidade de forma geral, mostrando o quociente de aproveitamento de cada terreno, que empreendimentos estão sendo feitos ao redor, que tipologia mais vende, qual o estoque da região, questões de legislação, quais os custos totais envolvidos na construção e por quanto será possível vender o metro quadrado”, diz Flávia Tissot, diretora de operações da plataforma. Segundo ela, um processo de análise que demoraria de 2 a 3 semanas cai para segundos. “Normalmente, chegam 40 terrenos por semana para uma equipe pequena analisar. É um trabalho de formiguinha. Com a plataforma, já é possível descartar a grande maioria e fazer essa análise em 10 minutos”, acrescenta. “A pessoa já entende no momento zero se vale a pena seguir com a negociação.” A solução de volumetria, interessante principalmente para avaliar terrenos de topografia irregular, também tem atraído, além de incorporadoras, clientes da área de arquitetura, que conseguem economizar tempo com a ferramenta, sem o risco de descobrir que um projeto não é viável naquele espaço. “Somos uma empresa de tecnologia que nasceu de uma empresa de arquitetura”, explica a diretora. “Todos os nossos programadores vêm de arquitetura, por isso sabem o problema que têm de resolver. A ideia é que a pessoa consiga fazer tudo online, sem precisar de passo a passo. É uma plataforma intuitiva.”
Gestão de ponta a ponta
Ecossistema de soluções que conecta startups para facilitar a tomada de decisões e transformar a indústria da construção civil por meio da tecnologia, a Trutec reúne hoje 20 players, quatro deles já prontos para atuar em escala – ConstruCode, Agilean, Construflow e Construct IN. Diego Mendes, porta-voz do ecossistema e CEO da ConstruCode – plataforma que simplifica o controle de documentos da obra, fazendo a gestão dos projetos do escritório ao canteiro por meio de códigos QR e revisões automáticas -, conta que 75% dos canteiros apontam a comunicação como um dos principais geradores de problemas. “Hoje você tem em torno de 2 mil desenhos diferentes trafegando em cada canteiro de obra, às vezes com mais de 2 mil pessoas trabalhando, se for de grande porte. Como entregar informações atualizadas em tempo real para esse canteiro? Foi isso que motivou a criação da ConstruCode”, fala. Já o engenheiro André Quinderé, fundador da Agilean, diz que prestava consultoria para incorporadoras indo a campo para compilar dados com o objetivo de alavancar a produtividade das obras. “Era tudo muito manual e levava tempo – uma, duas semanas. As informações eram entregues no papel e os clientes acabavam tomando decisões olhando para o retrovisor”, afirma. “A gente começou a entender que, sem tecnologia, não ia chegar aonde queria. Um clique teria que resolver tudo isso.” Com metodologia de lean construction – termo em inglês que define uma construção mais enxuta e sustentável -, a Agilean oferece tecnologia para suportar os processos de planejamento e controle de produção da obra, garantindo eficácia na tomada de decisão, evitando gargalos e aumentando a agilidade da construção. Única construtech do Ceará, foi vencedora da 23ª edição do prêmio CBIC de inovação e sustentabilidade e atualmente possui cerca de 20 mil usuários, que conseguem fazer a gestão de suas obras de ponta a ponta através do aplicativo. “Desde o planejamento estratégico até a entrega, tudo é plugado em tempo real, eliminando retrabalhos”, explica o engenheiro. Unidas para combater a baixa produtividade do setor, as startups da Trutec já digitalizaram mais de 2 mil obras. “Buscar esse resultado envolvia unir várias tecnologias, até porque o excesso de dados prejudica tanto quanto a falta deles”, afirma Mendes. “A ideia foi montar o ciclo de vida da obra como se fosse um ser humano, do nascimento à entrega.” Atendendo hoje 350 marcas, entre elas Tegra, Eztec e Andrade Gutierrez, o ecossistema elimina falhas de comunicação e retrabalhos em até 40 vezes, acabando com os imprevistos, que costumam ser os principais problemas no dia a dia da gestão da obra. “É realmente uma revolução na gestão das obras”, comemora Quinderé.
Fonte: Estadão
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