3 de julho de 2023
O reuso de água não é um assunto completamente desconhecido pelo brasileiro. De sistemas de captação de água da chuva para irrigar jardins ao "trabalho de formiguinha" de quem usa a água da máquina de lavar para limpar o quintal, o reuso para fins não-potáveis existe há décadas. Mas São Francisco, nos Estados Unidos, está na vanguarda deste movimento sustentável!
O maior edifício com sistema local de tratamento de água é o Salesforce Tower, também o mais alto de São Francisco (EUA) Clark Construction. Foto: Divulgação
Em 2015, a cidade americana passou a exigir que todos os novos edifícios de mais de 30 mil m² tenham sistemas de reciclagem de água no local. A ideia é que esses prédios comerciais e residenciais reduzam sua demanda por água potável, reaproveitando as águas negras (provenientes de vasos sanitários, lava-louças e pias de cozinha) e cinzas (de máquinas de lavar, chuveiros e banheiros) em um circuito fechado de tratamento.
“Não há razão para usar a água apenas uma vez. Assim como a natureza usa e reusa a água repetidamente em um ciclo impulsionado pelo sol, agora, temos tecnologias que nos permitem processar e reutilizar a água repetidamente, na escala de uma cidade, um prédio e até mesmo uma casa individual”, afirma Peter Fiske, diretor-executivo da National Alliance for Water Innovation, uma divisão do Lawrence Berkeley National Laboratory.
Segundo a plataforma Yale Environment 360, até agora, seis sistemas de águas negras e 25 de cinzas já foram implementados na cidade californiana. O uso autorizado dessa água reciclada para descargas e máquinas de lavar roupa reduz a demanda por água potável em cerca de 40%. O uso em chuveiros eliminaria outros 20%, embora a segurança dessa prática ainda não seja comprovada ou permitida pelo estado.
“O fator 'eca' é a principal barreira para mudanças residenciais em uma escala ainda maior. Quando falamos em reaproveitamento de água, mesmo entre construtores e arquitetos, ainda há muito medo. Ninguém falava sobre carbono há 20 anos, agora, todo mundo faz. A água também terá esse momento”, afirma Claire Maxfield, diretora da sede de São Francisco do Atelier Ten, empresa de engenharia e design com sede em Londres.
Segundo especialistas, um sistema totalmente circular, no qual a água é reutilizada no local para usos potáveis e não-potáveis, só deve acontecer daqui a 5 ou 10 anos.
Para demonstrar sua tecnologia, a Epic Cleantec, uma empresa de reciclagem de água local, chegou a produzir uma cerveja com água purificada proveniente de um prédio de 40 andares. “São Francisco escreveu o manual e reduziu os riscos de todo o processo. A tecnologia para fazer isso já existe há muito tempo, o que impede sua adoção é a regulamentação. O que as cidades e estados estão fazendo é criar um manual claro de como esses sistemas podem ser operados com segurança e eficiência”, afirma o fundador Aaron Tartakovsky.
Infelizmente, no panorama mundial, o Brasil fica para trás na reciclagem de água. Até o início deste ano, apenas seis estados no país possuíam uma legislação a respeito de reuso. Agora, a Lei 14.546/23, publicada no dia 4 de abril de 2023 no Diário da União, obriga o governo federal a estimular o uso das águas de chuva e o reuso não-potável das águas cinzas em novas edificações e nas atividades paisagísticas, agrícolas, florestais e industriais.
Embora não especifique de que forma ocorrerá este estímulo, estabelece que os reservatórios destinados a águas cinzas das edificações devem ser distintos da rede de água proveniente de abastecimento público. As águas de chuva e as cinzas devem passar por um tratamento que assegure seu uso seguro, previamente à acumulação e ao uso na edificação.
Fonte: Um Só Planeta (Globo.com)
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