Daqui a 30 anos estima-se que 70% da população mundial viverá em área urbana, o que requer que as cidades ofereçam um ambiente de habitabilidade. O desafio passa por soluções de mobilidade urbana e uma delas é o conceito de cidade de 15 minutos, ou seja, que o trajeto das pessoas para atender suas necessidades básicas não ultrapasse esse tempo, considerando um trajeto feito por meio de caminhada ou soluções sustentáveis e transporte público.
A ideia é do cientista da Sorbonne Business School e especialista em planejamento urbano,
Carlos Moreno. Nesse conceito, as pessoas gastam menos tempo e energia viajando e têm mais tempo e espaço para conhecer pessoas. Além disso, há pouco tráfego de automóveis, resultando em menos emissões de gases poluentes. Para oferecer tal qualidade de vida, uma cidade de 15 minutos é composta por quatro princípios básicos: densidade, proximidade, diversidade e ubiquidade (atualmente, a digitalização foi adicionada aos quesitos).
A pandemia da Covid-19 acelerou ou ativou projetos nesse sentido em todo o mundo, desde as superquadras de Barcelona, que reduzem o tráfego e ampliam as áreas verdes, a locais em que os veículos motorizados têm circulação restrita em determinadas áreas, como em Paris e Hamburgo.
As dimensões que levam às cidades de 15 minutosA primeira dimensão está relacionada ao número de pessoas por quilômetro quadrado. Uma densidade ideal ajuda a planejar com eficácia o espaço urbano disponível e a garantir que os itens essenciais estejam disponíveis sem a necessidade de usar automóveis. Já a diversidade engloba a necessidade de bairros de uso misto, que são primordiais no fornecimento de uma combinação saudável de componentes residenciais, comerciais e de entretenimento, e a diversidade na cultura e nas pessoas.
Em relação à proximidade, a meta é que as pessoas reduzam o tempo perdido no deslocamento e na redução dos impactos ambientais e econômicos. Além disso, a dimensão da proximidade ajuda a determinar indicadores sociais que impactam os residentes urbanos. A ubiquidade fecha o quarteto de conceitos da cidade de 15 minutos e significa que os bairros devem estar disponíveis e acessíveis a todos. Portanto, os bairros são projetados para que a pessoa possa morar, trabalhar e receber suas amenidades diárias – sem estar constantemente na estrada.
Os locais que almejam tornar-se uma cidade de 15 minutos não precisam fazê-lo de uma só vez. O conceito é, por definição, adequado para implementação em nível de bairro ou distrito. Isso torna possível uma reconstrução gradual da cidade. As administrações municipais podem aplicar as ideias em planos existentes para novas construções e no desenvolvimento de distritos urbanos. Os
exemplos de cidades que estão implementando o conceito incluem Paris, Barcelona, Melbourne, Ottawa, Nova York e Copenhague.
Copenhague tem distrito de 5 minutos, com metrô, bicicletas e caminhadaAs cidades de 15 minutos já oferecem soluções racionais de mobilidade urbana, que eliminam praticamente os carros e estimulam modalidades que vão da caminhada ao uso de
scooter, passando pelas bicicletas. Em Barcelona, apenas uma em cada quatro viagens é feita de carro.
De acordo com a vice-prefeita Janet Sanz, em uma pesquisa recente do governo local, 90% da população é a favor de espaço público para pedestres, bicicletas e uso de transporte público. Assim, pretende-se alocar o espaço para fins mais saudáveis. Barcelona é, em muitos aspectos, uma cidade de 15 minutos que aplica superquadras com sucesso.
Em Ottawa, a administração local lançou um plano de crescimento de 25 anos em 2019 para criar bairros de 15 minutos. A lição vem de cidades como Copenhagen, Amsterdam e Portland. O objetivo é que os residentes façam mais de 50% de suas viagens a pé, de bicicleta, de transporte público ou de carona. Atualmente, 40% a 50% das viagens diárias de seus residentes são feitas por um meio de transporte diferente de seus veículos pessoais.
A citada Copenhague, aliás, tem Nordhavnen, projetado como um
distrito de 5 minutos, onde tudo pode ser alcançado – lojas, escolas, etc. – a pé de qualquer ponto. A área será servida por uma via elevada de metrô e uma rede de bicicletas que criarão uma artéria verde.
Já em Melbourne, o governo local apresentou o programa piloto de bairro de 20 minutos ainda em 2018. A escolha de 20 minutos aconteceu porque uma pesquisa mostrou que este é o tempo máximo que as pessoas estão dispostas a caminhar para acessar as necessidades diárias localmente. Isso representa uma caminhada de 8 mil metros de casa até um destino e vice-versa.
Em muitos locais, o ciclismo e a caminhada foram promovidos e até mesmo novas
ciclovias foram criadas. Nas cidades europeias, os níveis de adoção de bicicletas aumentaram 30%. Nova Iorque teve um incremento de 67%, ao mesmo tempo em que Pequim o aumento foi de 150%.
Os prefeitos do C40 – grupo de 40 cidades, criado em Londres, que trocam experiências de políticas urbanas – integraram a cidade de 15 minutos na agenda comum para se recuperarem da crise e fazerem uma mudança ecológica. Com recursos de digitalização, o processo pode ser ainda mais turbinado. As ferramentas digitais oferecem diferentes formas de modalidade, como compartilhamento de bicicletas, pagamentos
online, tecnologia
blockchain e medição de emissões e monitoramento de fluxos de tráfego, entre outros. E fecham o ciclo das cidades de 15 minutos.
Fonte: Habitability