20 de junho de 2022
Para aprender com os melhores, é preciso, primeiramente, saber como eles chegaram onde estão. A capital da Noruega Oslo está sempre no
ranking
de cidades mais sustentáveis do mundo. Ela é vista como modelo, principalmente em suas ações para zerar a emissão de carbono. Mas, afinal, como Oslo se tornou exemplo de uma cidade zero carbono?
Zero carbono demanda planejamento, foco e trabalho a médio e longo prazos
O primeiro ponto essencial é entender que a cidade não se tornou a capital verde da Europa da noite para o dia. O resultado veio após anos de esforços e políticas públicas focados nesse propósito. Desde 2016, por exemplo, a cidade tem um “orçamento para o clima”. A ferramenta permitia ao município acompanhar a emissão de gás carbônico como se fosse o dinheiro da cidade. “O orçamento climático é uma ferramenta para operacionalizar nossas metas climáticas e a estratégia climática anualmente”, disse o chefe da agência climática de Oslo Heidi Sørensen, à revista
. O processo orçamentário estabelece exatamente o que deve ser feito, quando, por quem e quanto custará. Ele traz especificidade para um objetivo abrangente. Isso porque, ao tratar as emissões como um
budget
, a cidade é obrigada a medir o quanto cada setor gasta. Ao entender esse ponto, é possível propor medidas para atingir “a meta”. Mas, nem tudo são flores: os dados não são diários. Alguns deles têm lacunas de até dois anos de diferença com o tempo presente. Mesmo assim, por ter a meta orçamentária, é possível priorizar ações de curto e longo prazos. O vice-prefeito de Oslo Einar Wilhelmsen disse à New Yorker que o orçamento permite que a cidade resolva os argumentos: “Podemos calculá-lo, podemos dizer: ‘Sim, podemos fazer isso – mas isso não reduzirá muito as emissões”.
Zero carbono também foi possível graças a incentivos e multas
O “
climate budget
” foi apenas o primeiro passo. O que se seguiu a ele foi uma série de incentivos – positivos ou negativos – para o estímulo de ações sustentáveis por parte da população e das empresas. Carros elétricos ganharam descontos, enquanto veículos que utilizam combustíveis fósseis foram ficando cada vez mais taxados e, consequentemente, mais caros. As tarifas de estacionamento para carros a gasolina e diesel ficaram mais altas, o que acabou liberando espaços nos estacionamentos, que o município substituiu por vagas para bicicletas, bancos, praças e parques. E isso ainda não foi o bastante: a cidade vai criar uma “zona livre de emissões”, onde carros não elétricos serão proibidos. O mesmo padrão está se desenvolvendo na construção – máquinas de emissão zero serão obrigatórias para obras encomendadas para a cidade até 2025 – e no aquecimento doméstico: após vários anos de uso de subsídios para incentivar as pessoas a substituírem seus aquecedores a óleo, a cidade baniu-os completamente em 2020. A cidade também é um dos maiores pontos de venda de veículos elétricos, quase 83% das vendas de novos automóveis foram de carros elétricos. O incentivo à eletrificação da frota vai além dos carros e chega ao transporte público: a mudança começou em 2018, contando com o apoio de empresas como a Volvo. A transição está indo tão bem, que a frota de ônibus da cidade será elétrica até 2023, cinco anos antes da meta, que era 2028. Além disso, Oslo restaurou as hidrovias e reabriu três quilômetros de córregos e rios para o uso de barcos, que, até então, estavam fechados para a construção de rodovias. Assim, torna-se o meio de transporte mais acessível ao público, incentivando o uso de transportes mais verdes, facilitando a recuperação de ambientes degradados e ajudando na gestão eficiente da água da chuva.
Apertando os botões certos
As ações de infraestrutura não seriam tão efetivas se a prefeitura de Oslo não olhasse também para as empresas. A cidade gasta US$ 3 bilhões por ano em serviços e produtos. Para seguir o orçamento climático, usa esse dinheiro em negócios que agem para reduzir emissões. Empresas privadas que prestam serviços de transporte a serralheria são mais propensas a ganharem contratos com a prefeitura se usarem veículos elétricos. Assim como os fornecedores de alimentos para escolas, que ganham “incentivos”, caso optem por seguir pela produção orgânica.
Fonte: Habitability
Fique por dentro de tudo o que rola no setor!