De acordo com o United States Green Building Council, criador do sistema LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental) de classificação de edifícios sustentáveis, o Brasil é o quinto país com mais ativos imobiliários certificados no mundo. A análise envolve desde a concepção do projeto até a construção e operação do empreendimento.
Atualmente, há pouco mais de 1,5 mil construções sustentáveis em território brasileiro, sendo 641 delas certificadas. Outros 50 milhões de metros quadrados estão no processo para obter o selo LEED. A importância da certificação é ressaltada por Martin Jaco, CEO da BR Properties, empresa membro-fundadora do Green Building Council Brasil.
"O ranking confirma que sempre fomos um país de ponta em relação à arquitetura e engenharia. Ter empreendimentos validados por um órgão terceiro é muito mais valioso e transparente do que simplesmente divulgar que é um ativo sustentável. É uma espécie de auditoria", diz o executivo.
Vale lembrar que há outros certificados internacionais de sustentabilidade para o setor imobiliário, como o inglês BREEAM, o alemão DGNB e o suiço Minergie. Este último se disseminou na América Latina com ajuda da EBP, mas não foi incorporado pelo mercado brasileiro. O CEO da companhia, Matthias Thoma, comenta como enxerga o futuro das certificações.
"Acho que devem restar poucos certificados mundiais porque os investidores imobiliários atuam globalmente e não podem usar um certificado a cada momento. Entretanto, como o clima, as regulamentações e as políticas públicas são diferentes em cada país, sempre deve haver uma adaptação local", avalia.
Empreendimentos com selo LEEDDentro das 641 construções certificadas pelo sistema LEED no Brasil, oito pertencem à BR Properties, sendo quatro em São Paulo, três no Rio de Janeiro e uma em Belo Horizonte. Um galpão que está sendo construído em Cajamar também deve receber a certificação.
Segundo Jaco, isso faz com que mais de 90% do portfólio da empresa seja de ativos imobiliários sustentáveis. O executivo destaca a recente compra de edifícios corporativos que farão parte do Condomínio Parque da Cidade, em São Paulo, que tem as certificações LEED Gold e LEED Neighborhood.
Entrada de uma das torres corporativas adquiridas pela BR Properties. Crédito: Divulgação/SiiLA"O selo de vizinhança é inédito no Brasil. Foi concedido exatamente por se tratar de um projeto de uso misto, com área verde e aberto para toda a comunidade", aponta o CEO da BR Properties.
Outro empreendimento sustentável certificado é o B32, da Birmann S.A. Entregue no início deste ano em São Paulo, o edifício corporativo recebeu a mais alta certificação do Green Building Council: LEED Platinum.
Edifício B32 fica na Av. Faria Lima. Crédito: Divulgação/Stampstay"Apesar de ser a nossa única certificação, o B21, construído na década de 1990, continha muitos dos conceitos de sustentabilidade que hoje são critérios de avaliação. Já havia, por exemplo, coleta de água da chuva para uso no prédio", afirma o presidente Rafael Birmann.
Ainda na capital paulista, o São Paulo Corporate Towers recebeu igualmente o certificado LEED Platinum. O empreendimento foi desenvolvido pela Participações Morro Vermelho,
holding proprietária da Camargo Corrêa.
São Paulo Corporate Towers fica na Vila Olímpia. Crédito: Divulgação/CTE"Desde a concepção do projeto, os acionistas do nosso grupo estabeleceram algumas premissas, sendo uma delas atingir um dos mais altos níveis de sustentabilidade possíveis no Brasil. Fizemos 96 pontos no LEED e estamos entre as cinco pontuações mais altas do mundo", revela o diretor de
Real Estate da Participações Morro Vermelho, Francisco Lopes.
Segundo o executivo, o São Paulo Corporate Towers coleta água de chuva, conta com um sistema de tratamento de água cinza e produz a própria energia elétrica através de geradores a gás natural. Ainda utiliza de tecnologias e modelos arquitetônicos para reduzir o consumo de energia e tem uma área verde de quase 20 mil m² na qual foram preservadas cerca de 800 árvores durante a construção do empreendimento.
A preocupação com a operação sustentável é enaltecida por
Nicolaos Theodorakis, CEO da Noah, empresa que recentemente iniciou seus trabalhos no desenvolvimento imobiliário, com foco no
wood building. O especialista lembra que o setor de construção é responsável por 39% das emissões de gás carbônico (CO2) relacionadas ao consumo e à produção de energia, sendo aproximadamente 18% durante o funcionamento dos edifícios.
Os 21% restantes são emitidos durante a construção dos prédios, o que pode ser reduzido através da implantação de novos métodos construtivos. "Aço e concreto, por exemplo, representam 11% das emissões de CO2. Ao utilizar a madeira engenheirada como elemento construtivo, conseguimos combater boa parte deste percentual", assegura Theodorakis.
Sobre as certificações, o executivo afirmou que também pretende autenticar os empreendimentos desenvolvidos, mas ainda não identifica um selo que transpareça a completa ideologia da empresa. Isso porque, além da sustentabilidade, a Noah promove a industrialização da construção. Neste quesito, "um dos poucos pontos avaliados pelo LEED é a eliminação de resíduos", acrescenta Theodorakis.
Evolução ESGVale lembrar que nos últimos anos o conceito de sustentabilidade, que antes se restringia às questões ambientais, também têm englobado questões sociais, de transparência econômica, de governança, entre outras. Neste contexto, ganha força o termo
ESG (
environmental, social and governance).
"Para nós, trata-se de uma evolução do mercado, que exigirá muito mais consciência de investidores, operadores e até dos usuários. Todos devem querer um produto melhor, mas também mais responsável", declara Martin Jaco. Em sintonia, Birmann revela que uma das essências do B32 é dar ao usuário a oportunidade de controlar seus consumos.
"Todas as utilidades – energia, água gelada, água potável, água quente e água de reuso – são medidas individualmente para permitir que o usuário faça uma gestão eficiente, buscando reduzir seus consumos, e, portanto, o seu gasto com cada uma delas", diz.
Lopes, por sua vez, ressalta iniciativas sociais realizadas no São Paulo Corporate Towers: "Promovemos a coleta de roupas no inverno, de material escolar no início dos períodos letivos, de brinquedos para o dia das crianças. Isso tudo é revertido para as comunidades que apoiamos".
Para Rubens Spina, CEO da EBP Brasil, o segredo é identificar sinergias entre todas as questões que envolvem o ESG e tentar conectá-las. "O certificado LEED, por exemplo, quase não trata de questões sociais. Contudo, existem muitas outras certificações", analisa o executivo.
De qualquer forma, Vinicius Ambrogi, líder de Marketing e Meio Ambiente da EBP Brasil, confirma o avanço do ESG no país e garante que o movimento foi um dos responsáveis pelo incremento na demanda da empresa nos últimos anos.
"A procura vem se intensificando à medida em que o mercado financeiro se atenta a tais aspectos. Além de significar uma redução de risco para os investidores, o ESG influencia na imagem das empresas e deve ser beneficiado por questões de regulamentação", conclui.
Fonte: GRI Club