A Caixa vai começar a oferecer financiamento imobiliário com taxas prefixadas até março de 2020, afirmou ontem o presidente do banco, Pedro Guimarães.
A medida representa um passo além do financiamento corrigido pelo IPCA, que foi lançado pelo banco em agosto e originou R$ 3 bilhões em operações desde então. Embora já estivesse nos planos, o crédito sem indexador virá três meses antes do previsto, se confirmado esse prazo.
As linhas prefixadas vão conviver, no portfólio da Caixa, com o crédito indexado pela inflação e com os financiamentos tradicionais, que acompanham a Taxa Referencial (TR). “O cliente vai escolher o que quiser”, disse.
A oferta de crédito sem indexação é possível, segundo o executivo, porque a queda da Selic permite fazer “hedge” de taxa de juros para prazos mais longos. Assim como no caso das linhas atreladas ao IPCA, a intenção de Guimarães é securitizar e vender para investidores as operações de crédito prefixadas. “Não precisamos ter R$ 400 bilhões em carteira imobiliária, podemos ter R$ 300 bilhões”, afirmou.
Neste ano, o banco voltou a crescer no crédito imobiliário, em linha com a estratégia da nova gestão de concentrar o foco nessa atividade, no financiamento à infraestrutura e em operações com pessoas físicas e pequenas empresas. A carteira de empréstimos e financiamentos da Caixa somava R$ 683,186 bilhões no fim de setembro, o que representa alta de 0,1% em relação a junho e queda de 1,5% em um ano. Do total, R$ 456,328 bilhões se referiam ao crédito habitacional, cujo saldo aumentou 0,9% e 3,6%, respectivamente. A inadimplência recuou 0,08 ponto percentual em relação a junho, para 2,38%.
A instituição está reduzindo a exposição a grandes empresas, e não tem renovado as operações de curto prazo à medida que vencem. Esse movimento deve fazer com que o estoque total de crédito da Caixa continue crescendo pouco. “Não é a intenção ter um crescimento acelerado da carteira”, afirmou Alexandre Ywata, vice-presidente de riscos.
O portfólio deve até diminuir à medida que a securitização das operações imobiliárias ocorrer, acrescentou Guimarães.
Os bancos públicos vêm recuando no mercado de crédito no governo Bolsonaro. No terceiro trimestre, o Itaú Unibanco ultrapassou o Banco do Brasil e se tornou a maior instituição financeira do país em tamanho de carteira.
Apesar da queda no estoque, o crédito aumentou sua contribuição para o resultado da Caixa em decorrência do foco maior nas operações de varejo. O banco apurou lucro líquido recorrente de R$ 4,224 bilhões no terceiro trimestre - queda de 14,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Os números operacionais melhoraram, mas a instituição pagou um volume maior de tributos.
Em termos contábeis, o lucro foi de R$ 8,026 bilhões, com alta de 66,7%. O resultado foi positivamente influenciado pela venda de uma posição de quase R$ 7 bilhões em NTN-B. O banco usava os títulos do Tesouro como hedge dos instrumentos híbridos de capital e dívida (ICDH), espécie de empréstimos sem vencimento feitos pelo governo à instituição nas gestões petistas. A Caixa aprovou até agora a devolução de R$ 12,5 bilhões desses títulos ao Tesouro.
Guimarães aproveitou a divulgação do balanço, ontem, para anunciar a redução nas taxas de juros do cheque especial de 8,99% para 4,99% ao mês - bem abaixo da média de 12% praticada pelos bancos privados. A expectativa dele é atrair “centenas de milhares de clientes” com a medida. O novo patamar pode induzir a redução de juros em outras linhas de crédito pessoal, de forma a ajustá-las. “A Caixa devolve lucro para a sociedade dessa forma”, disse.
De acordo com ele, a nova taxa ainda proporciona um retorno de “mais de 100%” para o banco, e pode cair mais num ambiente de Selic baixa. “-O cheque especial- é uma carteira de menos de 1% do total da Caixa. Tem pouco impacto no nosso resultado.”
Guimarães afirmou que um patamar de 15% é o ideal para o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) recorrente do banco - pouco acima dos 14,22% apresentados no terceiro trimestre. Ao mesmo tempo, o executivo disse que o banco poderia reduzir o índice de Basileia (medida de capital bancário) para algo entre 17% e 18%, frente aos 20,1% apresentados no fim de setembro.
Fonte: Valor Econômico