9 de fevereiro de 2022
9 de fevereiro de 2022
Reciclar, reduzir e reutilizar. Esse é o novo mantra das empresas da construção civil que visam diminuir impactos ambientais. No Brasil, o setor produz anualmente cerca de 50% dos resíduos sólidos urbanos — e, em 2019, gerou cerca de 45 mil toneladas de resíduos, segundo estudo publicado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Péssimo para o meio ambiente, o resultado é muito ruim também para os negócios porque, na prática, significa custo maior para as empresas.
As grandes incorporadoras e construtoras estão empenhadas em buscar soluções para reciclagem e reutilização do material excedente, transformando resíduos em recursos, afirma a gerente de Meio Ambiente da Benx Incorporadora, Ana Paula Costa. “Quando apontamos soluções para reciclar, reduzir e reutilizar os resíduos, estamos gerando recursos para a companhia e para terceiros, que são cooperativas ou outras empresas que fazem o manejo correto desse material”, afirma.
O grande vilão na geração de resíduos da construção civil é o entulho de alvenaria, formado principalmente por argamassa, cerâmica e fragmentos de concreto. A prática da reciclagem e reutilização reduz o consumo do material virgem das pedreiras e se traduz em economia. Para as empresas, cada vez mais alinhadas com as questões ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês), há ainda redução na emissão de CO2 quando optam por serviço de britagem móvel, feita no local da construção, ou trabalha em parceria com usinas de reciclagem próximas, reduzindo a circulação de caminhões. Em média, o produto reciclado fica de 10% a 30% mais barato do que o agregado natural.
No Grupo Cyrela, com cerca de 700 obras em andamento, a produção de resíduos chega a quase mil toneladas. O volume é alto, mas não por falta de protocolos para reaproveitamento das sobras de construção, garante a gerente de Legalização e Meio Ambiente da companhia, Christiane Menegario. “Gestão de resíduos é um enorme desa-fio, mas o setor da construção está realmente empenhado em resolver o problema.”
Até 2019, as informações das obras do grupo eram inseridas em planilhas de Excel e auditadas. Recentemente, foi criado o Programa de Indicadores para Gestão de Resíduos com consultoria especializada na área. Agora, os dados vão para uma plataforma digital, o que permite atualização e acompanhamento constantes.
“Com dados mais precisos, tentamos buscar soluções mais efetivas. Mas nem tudo é simples. Antes de pensar em como utilizar a terra retirada de um terreno e levar para outro que precisa de aterro, por exemplo, a construtora tem que fazer um rigoroso estudo do solo para evitar contaminação. Nem sempre é possível reutilizar tudo”, pontua Christiane.
Manter o canteiro de obras organizado, com separação de resíduos por tipo de material, e destinar os resíduos para empresas certificadas que dão destinação correta a cada tipo de material são medidas que ajudam muito a diminuir o volume de detritos do setor.
“Estabelecemos a meta de reciclar, ao menos, 85% dos resíduos das construções. Mas, em 2020, atingimos a marca de 99,1%, graças ao monitora-mento da geração de entulho, administração dos descartes nos canteiros, logística reversa e adoção de materiais reaproveitáveis”, conta Angel Ibañez, diretor de Suprimentos e ESG da Tegra Incorporadora.
Atentas ao problema, entidades do setor estão adotando uma série de ações para conscientizar e facilitar formas de gerir sobras de construção. Em 2020, a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon) lançou a campanha “Você é responsável pelo entulho que gera”, com o objetivo de combater o descarte irregular dos resíduos e difundir informações sobre a gestão correta de sobras das obras.
A entidade criou ainda o Mapa Abrecon, sistema de geolocalização de empreendimentos que recebem e reciclam resíduos da construção civil e demolição, que permite localizar onde descartar entulho ou comprar agregado reciclado em diferentes cidades do Brasil que tenham ecopontos.
Inovação ajuda a melhorar a gestão do lixo orgânico.
O empenho do setor da construção civil brasileiro para fazer a gestão correta de resíduos está mais focado na fase das obras, que vai da utilização do Building Information Modeling (BIM), ferramenta que ajuda a quantificar com exatidão a matéria-prima, até o uso de materiais reciclados. Após a entrega da obra, os administradores dos condomínios recebem um manual, alguns com sugestões de empresas ou cooperativas certificadas para cuidar dos resíduos sólidos.
A coleta de resíduo a vácuo é um sistema que já vem sendo muito utilizado na Europa e nos EUA — o edifício Hudson Yards é um exemplo. No Brasil, foi adotado pelo Shopping Parque da Cidade, na Zona Sul de São Paulo, e consiste na implantação de tubulações subterrâneas. Quando o morador separa resíduos reciclável e orgânico, o material descartado é enviado por sucção para uma central de armazenamento, pronto para ser retirado pelo sistema de coleta.
O uso de biodigestor é outra ótima solução, que transforma o lixo orgânico em biogás, usado como gás de cozinha. Fora isso, a água de depuração desse processo é um fertilizante riquíssimo para horta e jardim. A prensa para reduzir o volume do resíduo e a composteira elétrica são também boas opções para gerir resíduos orgânicos. O Pátio Malzoni, na Faria Lima, adotou a composteira elétrica, que transforma resíduo orgânico em adubo empregado na horta comunitária do empreendimento corporativo.
Conteúdo publicado no Valor Econômico
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