31 de maio de 2021
A Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) monitorou por mais de um ano, entre 27 de março de 2020 e 9 de abril de 2021, as condições de saúde de 73 mil trabalhadores de 900 canteiros de obras em todo o país.
O trabalho deu origem ao relatório "Segurança nas Obras", segundo o qual, desde o início da pandemia, foram registradas 18 mortes por Covid-19 entre os trabalhadores da construção. Desde agosto, nenhum óbito foi registrado entre os operários.
No período analisado, 7.026 trabalhadores contraíram a doença e se recuperaram —9,62% do total. As mortes corresponderam a 0,02% dos funcionários sob observação da Abrainc.
A primeira onda de Covid-19, entre março e julho de 2020, atingiu os canteiros com mais força do que a segunda, a partir de fevereiro de 2021, segundo a Abrainc.
Na comparação entre os dois momentos, a contaminação de funcionários foi 26% menor na segunda, e o número de casos suspeitos da doença também caiu 67%.
Para Luiz Antonio França, presidente da Abrainc, a queda é resultado da implementação de protocolos de segurança, já que a quantidade de obras paralisadas foi pequena. A construção civil foi considerada atividade essencial.
“Nossa responsabilidade, quando fomos autorizados a continuar trabalhando, foi enorme”, afirma.
Segundo levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), os desligamentos provocados por morte de funcionários cresceram 62,5% na construção civil, na comparação entre o primeiro trimestre de 2021 e de 2020. Entre os 21 setores analisados pelo levantamento, a construção teve o 15º maior aumento.
Entre as medidas adotadas pelo setor, e que ainda estão sendo usadas, estão distanciamento e horários escalonados nos refeitórios, turnos para usar os vestiários e para a entrada nas obras, restrições aos funcionários com sintomas ou de grupos de risco.
O protocolo inclui ainda a oferta de máscaras para o horário de trabalho e para o trajeto entre casa e obra, medição de temperatura dos funcionários na entrada e saída dos canteiros, informativos sobre os cuidados necessários com a doença e reforço da higiene, com álcool gel e instalação de mais banheiros.
O presidente do Sintracon-SP (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil), Antonio de Sousa Ramalho, diz que o risco de contaminação foi levado muito a sério nos canteiros de obra desde o início da pandemia, ainda no ano passado.
Em 2021, quando a circulação de novas variantes do coronavírus deram origem a um repique de casos de Covid-19, o fórum de atendimento aos trabalhadores, formado pelos sindicatos de trabalhadores e patronal, reforçou as recomendações de segurança.
“Fizemos vários vídeos com recomendações e distribuíamos nos celulares. Durante o dia, as empresas exibiam os vídeos nas obras, para o pessoal ver antes de terminar o horário de almoço”, afirma Ramalho.
O plano de trabalho para garantir que não houvesse piora no nível de contaminação nas obras incluiu também a negociação por transportes alternativos e o estímulo a caronas.
“Sabemos que o que realmente evita a Covid-19 é o cumprimento dos protocolos. O primeiro deles é a máscara. Pedimos que as empresas fornecessem N95 -padrão similar ao tipo PPF2, considerado mais seguro- ou duas máscaras para o transporte coletivo”.
Segundo o presidente do Sintracon-SP, o trabalho de conscientização nas obras não se restringiu aos operários. Técnicos de segurança do trabalho, engenheiros, mestres de obras e pessoal administrativo também foram envolvidos nos protocolos.
O Sinduscon-SP (sindicato da indústria) também tem feito pesquisas semanais para monitorar os índices de contaminação. Entre os dias 6 e 12 de maio, a proporção de casos suspeitos estava em 0,37%, e o de confirmações, em 0,18%. Um operário estava internado.
Na semana anterior, as suspeitas respondiam por 0,39% dos 38,8 mil trabalhadores em obras consultadas pelo sindicato.
Em nota, os dirigentes do Sinduscon-SP, Odair Senra, e do Serviço Social da Indústria da Construção, Haruo Ishikawa, dizem que há uma “consciência consolidada” sobre o uso correto de máscaras, de higiene das mãos e distanciamento.
Para Ramalho, do sindicato dos trabalhadores, o afastamento ágil de funcionários com suspeita e a investigação de onde teria ocorrido a contaminação foi importante para manter os números em baixa e evitar o espalhamento do vírus. “Queríamos que nenhuma morte tivesse sido registrada. Mas com esse trabalho conseguimos evitar o pior, tivemos poucas internações.”
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