30 de agosto de 2023
Disciplina de custos nos canteiros de obras e agilidade no lançamento de empreendimentos para o rápido repasse de preço são alguns dos fatores que justificam os bons resultados da Cury Construtora e Incorporadora em 2022, listada em primeiro lugar no ranking do setor de empreendimentos imobiliários na 23ª edição do ranking Valor 1000. No ano passado, a Cury registrou um crescimento de 29,9% na receita líquida, para R$ 2,25 bilhões, e lucro líquido sobre patrimônio líquido médio de 49,1%. “Prevemos um importante crescimento para 2023”, diz o CEO da empresa, Fábio Cury.
Canteiro de obras de empreendimento da Cury em São Paulo — Foto: Julio Bittencourt/Valor
No acumulado do primeiro semestre deste ano, a companhia soma R$ 2,27 bilhões em vendas líquidas, alta de 37,7%, e R$ 2,64 bilhões em lançamentos, crescimento de 43,8% sobre o primeiro semestre de 2022. “Neste período, em que completamos 60 anos, atingimos o melhor primeiro semestre da nossa história, tanto em nosso desempenho operacional – vendas, repasse e unidades produzidas – como nos resultados financeiros – receita e lucro –, e alcançamos patamares inéditos”, informou a construtora e incorporadora na divulgação de resultados.
Diante dos números registrados entre janeiro e junho de 2023, a companhia se diz mais confiante para os próximos meses. As perspectivas otimistas devem-se às novas medidas do Minha Casa, Minha Vida (MCMV). O relançamento do programa aumentou os subsídios para a aquisição da casa própria, elevando portanto o potencial de compra dos beneficiários e o teto do valor das unidades, que passou de R$ 264 mil para R$ 350 mil, permitindo o lançamento de residências mais rentáveis por parte das construtoras.
Segundo o CEO, 90% dos produtos da Cury são elegíveis no programa. “A atuação da empresa nas faixas mais altas e até fora do programa MCMV permitiu subir preços e preservar margens”, explica. O foco da construtora são famílias com renda mensal de R$ 2 mil a R$ 8 mil ou que pretendem comprar imóvel de médio padrão, com dois dormitórios e cerca de 40 metros quadrados de área, em média.
O preço médio dos lançamentos da empresa no segundo trimestre foi de R$ 321,8 mil, enquanto o preço médio de venda ficou em R$ 278,3 mil, já acima do teto antigo do programa habitacional. Mesmo com a taxa de juros ainda na cada de dois dígitos, 13,25% ao ano, os clientes do MCMV têm taxas subsidiadas e fixas, o que contribui para a continuidade do pagamento das parcelas do financiamento.
Fábio Cury, CEO da empresa. Foto: Carol Carquejeiro/Valor
No novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em 11 de agosto, o maior investimento, R$ 610 bilhões, será para o eixo Cidades Sustentáveis e Resilientes, que prevê a construção de novas moradias do MCMV e o financiamento para aquisição de imóveis. Dessa forma, a expectativa do CEO da companhia é a de ter um crescimento sustentável nos próximos anos, mantendo a rígida gestão financeira. “Somos muito disciplinados em seguir nossas regras de ouro na companhia. [A primeira delas] é sempre comprar nossos terrenos em permuta ou com parcelas de longo prazo”, afirma. A segunda regra de ouro, explica Cury, é o uso do crédito associativo, operado pela Caixa Econômica Federal, em todos os empreendimentos, o que permite o repasse do financiamento do cliente ainda na planta. “O que também nos garante receber da instituição bancária o valor financiado durante o processo construtivo”, afirma.
A terceira regra de ouro elencada por Cury é o foco em rápidas vendas. O executivo afirma ter hoje a maior velocidade sobre vendas do setor. “Essas regras nos têm proporcionado consistente geração de caixa e ótima rentabilidade, que tem se traduzido em distribuição de dividendos e um modelo de asset light [operação com poucos ativos]”, completa Cury.
A companhia planeja crescer nas mesmas regiões em que já atua. Segundo o CEO, a estratégia da empresa é lançar empreendimentos em ótimas localizações, concentrados nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, e assertividade dos produtos. A Cury tem market share de 4,5% na região metropolitana de São Paulo e de 9% na do Rio. Os projetos costumam ser lançados em áreas com comércio e infraestrutura. “Ainda vemos grande potencial de expansão nessas duas regiões, pois existe uma demanda muito grande”, afirma Cury.
Nos últimos dois anos, a companhia cresceu com lançamentos residenciais no Porto Maravilha, uma área urbana próxima ao centro da capital fluminense que estava sendo revitalizada para o mercado comercial, mas que não vingou para esse fim. Outra região explorada foi a Mooca, bairro da zona leste de São Paulo próximo à região central, com cerca de sete mil unidades prontas ou em via de lançamento.
Os novos planos diretores das duas maiores cidades do país também podem beneficiar a companhia. No Rio de Janeiro, onde a alteração ainda estava em discussão até meados de agosto, a expectativa do mercado é que seja incentivado o crescimento do centro da cidade e da zona norte, áreas que já são pontos de atuação da Cury, em oposição à tendência de crescimento na zona oeste.
Em São Paulo, a reforma urbana, que ocorre uma vez a cada década, libera o potencial de verticalização e também afrouxa significativamente as restrições de altura de construção, tamanho da unidade e disponibilidade de vagas de estacionamento. O Plano Diretor Estratégico, aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo no fim de junho, traz medidas que promovem o adensamento urbano inteligente em áreas da cidade próximas a eixos de transporte. Segundo analistas do setor imobiliário, embora as construtoras de renda média e alta provavelmente se aglomerem em áreas próximas ao transporte público, as reformas também tornarão as oportunidades disponíveis em toda a cidade. A experiência da Cury em empreendimentos de grande escala deve garantir uma vantagem sustentada em um mercado de renda média-baixa ampliado, mas menos competitivo.
A companhia lançou oito projetos entre abril e junho deste ano, sendo cinco na capital paulista e três no Rio, com valor geral de venda (VGV) potencial de R$ 1,22 bilhão, um crescimento de 15,7% ante o ano anterior. Considerando todo o primeiro semestre de 2023, os novos projetos somaram R$ 2,64 bilhões em VGV, 43,8% mais do que há um ano.
A receita líquida operacional subiu 26% em um ano, para R$ 1,3 bilhão, enquanto a margem bruta ficou em 37,6%, alta de 1,3 ponto percentual. Houve geração de caixa operacional de R$ 111 milhões, aumento de 14%. A receita líquida cresceu 21% no segundo trimestre, para R$ 728 milhões. A Cury terminou o segundo trimestre com vendas líquidas de R$ 1,19 bilhão, crescimento de 33% ante o mesmo período de 2022. E já planeja o terceiro trimestre de 2023 com um volume forte de lançamentos, mas menor do que nos dois primeiros trimestres. A Cury tem estoque avaliado em R$ 1,4 bilhão em VGV, alta de 14,8% em um ano – deste total, 1,7% são de unidades concluídas.
Fonte: Valor Econômico
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