5 de novembro de 2025
Por Luiz França, presidente da ABRAINC
O setor de incorporação imobiliária brasileiro está diante de uma oportunidade histórica: liderar o processo de descarbonização das cidades e impulsionar uma nova economia urbana, resiliente e de baixa emissão de carbono.
Esse papel decorre não apenas da responsabilidade de quem transforma o território, mas de vantagens estruturais que conferem ao Brasil e ao setor uma posição estratégica diante do desafio climático.
Quatro fundamentos técnicos sustentam esse protagonismo são:
1. Eficiência energética relativa elevada
O Brasil ocupa posição de destaque entre os países com menor consumo de energia per capita. De acordo com o Atlas de Eficiência Energética da EPE (2023), em 2019 o país estava na 54ª colocação entre 56 nações avaliadas em termos de Demanda de Energia Primária (DEP).
Trata-se de um indicativo relevante: consumimos menos energia por pessoa para sustentar nossas atividades, com menor emissão associada à energia — um diferencial importante no enfrentamento às mudanças climáticas.
2. Avanços concretos na eficiência operacional das edificações
Entre 2005 e 2022, o setor residencial brasileiro apresentou uma evolução notável em eficiência energética. O índice ODEX, que mede esse desempenho, caiu de 100 para 80,1 — uma melhoria de 20%.
Esse é o melhor resultado entre todos os setores da economia brasileira. Ou seja, as habitações consomem menos energia para oferecer o mesmo conforto, um avanço silencioso, mas crucial do ponto de vista climático.
3. Uma das matrizes elétricas mais limpas do planeta
Com 84,8% da eletricidade proveniente de fontes renováveis, o Brasil possui uma matriz muito mais limpa que a dos países da OCDE (27%) e que a média global (23%).
Isso significa que, mesmo quando há consumo elétrico, nossa pegada de carbono associada é bem menor, fator que nos coloca à frente de outras nações.
4. Transição energética em curso nas residências brasileiras
O uso de energia no setor residencial tem passado por um processo acelerado de eletrificação — substituindo fontes fósseis, como o gás de cozinha, por eletricidade limpa.
Entre 2005 e 2022, a participação da eletricidade no consumo residencial cresceu de 52% para 65%, enquanto a demanda total caiu, um reflexo direto da maior eficiência dos equipamentos e da substituição de combustíveis por fontes renováveis.
Esses quatro pilares nos colocam em posição privilegiada
Estudo da POLI-USP mostra que no segmento de habitação residencial popular, apenas cerca de 30% das emissões do setor são oriundas da fase de operação. O restante — 70% — decorre da fase de construção.
Isso nos leva a uma conclusão central: a maior parte das emissões da incorporação imobiliária está associada à cadeia de suprimentos.
O Inventário Setorial de Gases de Efeito Estufa da Incorporação Imobiliária, desenvolvido pela ABRAINC em parceria com Secovi-SP e SindusCon-SP, no âmbito da Aliança GEE, revelou que 97,4% das emissões são de escopo 3 — ou seja, não são emitidas diretamente pelos incorporadores, mas por fornecedores, sobretudo na produção de materiais de construção.
Os dados deixam claro que a maior parte das emissões da incorporação imobiliária está fora do canteiro — e, portanto, qualquer estratégia eficaz de descarbonização precisa ser construída a partir da cadeia de valor.
Urgente é garantir transparência nas informações ambientais dos materiais que compõem as obras
Nesse sentido, a prioridade deve ser a disponibilização das Declarações Ambientais de Produto (EPD) pelos fabricantes de insumos e sistemas construtivos.
As EPDs são documentos técnicos que quantificam os impactos ambientais de um produto ao longo de seu ciclo de vida. Sem esse detalhamento, é impossível tomar decisões baseadas em dados concretos de carbono incorporado nos projetos.
Apenas com uma cadeia de suprimentos comprometida com a mensuração e divulgação de emissões — em linguagem técnica padronizada e verificável — será possível avançar no desenho de empreendimentos orientados à redução da pegada de carbono.
Descarbonizar é, antes de tudo, conhecer, e isso exige dados confiáveis
A jornada para cidades mais sustentáveis começa com um pacto por informação ambiental de qualidade.
Com uma matriz energética limpa, ganhos reais em eficiência e pegada operacional bem menor que a média global, o Brasil já constrói com menor impacto.
O que falta agora é dar visibilidade aos números, transformar informação em ação e envolver toda a cadeia de produção na redução das emissões.
Às vésperas da COP30, podemos mostrar ao mundo que o Brasil tem no setor da incorporação imobiliária um motor de crescimento sustentável, que concilia desenvolvimento urbano com responsabilidade climática.
Artigo publicado na Exame
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