27 de março de 2024
Geógrafa por formação, Renée Silveira, diretora de Incorporação da Plano&Plano, conta, em entrevista exclusiva à ABRAINC para a campanha Mulheres à Obra 2024, sobre os encantos que a fizeram optar pelo setor da Construção, grandes inspirações no mercado, desafios para inovar, aumento da presença feminina, momentos marcantes da carreira, entre muitos outros assuntos.
Renée considera que o principal desafio enfrentado foi introduzir conceitos que não eram do mercado imobiliário para o segmento. “No passado, era tudo muito padronizado. O mercado tinha uma tendência a apostar apenas em ações que já haviam se provado bem-sucedidas anteriormente. A pandemia veio para dar um susto e mostrar que é preciso sair da caixa”.
A diretora da Plano&Plano relata que no início de sua carreira no setor, muitas vezes, era a única mulher em reuniões importantes com a diretoria, participando de fóruns. “Hoje, eu já vejo uma mudança nessa postura. Mais mulheres em cargos estratégicos, fazendo parte da diretoria e como CEOs”, ressalta.
Alguns momentos marcaram a carreira de Renée. Ela destaca como um dos principais a participação no processo de IPO da Plano&Plano. “A abertura de capital é um processo transformador em uma empresa, porque envolve toda a estrutura, pessoas, documentações”.
Sobre ações para promoção da equidade de gênero no setor, Renée conta que cerca de 42% dos cargos de gerência da Plano&Plano já são ocupados por mulheres, e 55% das posições de chefia e coordenação, no escritório, são femininas. “A Plano & Plano valoriza muito a diversidade para criar um ambiente de trabalho equitativo, agênero”, destaca.
Confira a íntegra da entrevista exclusiva abaixo:
Como você decidiu seguir carreira na construção civil? Houve alguma inspiração em particular?
A minha trajetória profissional foi bastante eclética, começando por minha formação em Geografia. Conheci a construção civil fazendo estudos de vocação imobiliária para vários players do mercado imobiliário e outros mercados, de varejo, educacional, entre outros. Mas o mercado imobiliário tem seu encantamento próprio e me conquistou. Nele já estou há mais de 20 anos.
Trabalhei na Gafisa, na área de inteligência de mercado. Era início dos anos 2000, quando ainda as pessoas davam pouco valor à estratégia de dados, não existia uma cultura. E lá, eu tive grandes mentores, o sr. Odair Senra e Sandro Gamba, dois grandes nomes do mercado, e que acreditavam muito nos dados como estratégia de negócio, na tomada de decisão.
Até que cheguei a Plano&Plano, para trabalhar na área de incorporação. E conheci outros grandes líderes inspiradores, o Rodrigo Luna, fundador e presidente do Conselho Administrativo, e o Rodrigo Von, co-fundador e CEO da companhia, Elie Horn e Efraim Horn na operação da Cyrela Plano&Plano.
Trabalhando lado a lado com essas pessoas, eu tive a oportunidade de desenvolver diversas habilidades e adquirir muito conhecimento com essas trocas.
Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao entrar nesse setor?
Acredito que o principal desafio foi introduzir conceitos que não eram do mercado imobiliário para o segmento. Formas diferentes de fazer algumas coisas, ferramentas para auxiliar nas análises e tomadas de decisões, um olhar que não fosse igual. Esse sempre foi meu maior desafio, pois era um mercado muito tradicional e fechado a inovações.
No passado, era tudo muito padronizado. O mercado tinha uma tendência a apostar apenas em ações que já haviam se provado bem-sucedidas anteriormente. A regra era: tinha que ter uma maquete física, um plantão de vendas, o decorado, tudo meio padrão.
A pandemia veio para dar um susto no mercado e mostrar que é preciso sair da caixa. Hoje, o setor está muito mais aberto a inovações, a tecnologias que permitam uma melhor experiência de compra ao consumidor.
Como mulher, qual é sua visão do mercado de trabalho da construção?
O mercado da construção civil sempre foi muito tradicional, fechado e machista. Quando comecei, muitas vezes, eu era a única mulher em reuniões importantes com a diretoria, participando de fóruns, e, hoje, eu já vejo uma mudança nessa postura. Mais mulheres em cargos estratégicos, fazendo parte da diretoria e como CEOs.
Se pensarmos que, nos anos 50, uma mulher não poderia abrir uma conta no banco sem o aval do pai ou marido, e se você comparar o mercado imobiliário na época que comecei, e que hoje faço parte, evoluiu muito, é uma participação considerável. Mas não podemos nos satisfazer só com isso.
Não deveríamos ter que calcular se é pouco ou muito. A realidade é que não deveria fazer diferença, né? Deveria ser algo natural, independente do gênero.
Quais são as principais mudanças que você gostaria de ver acontecer no setor para promover a igualdade de gênero?
Não deveria ser um diferencial. Ter mulheres no conselho, na diretoria. Isso deveria ser agênero, sabe? A busca é para que isso seja um processo natural, que a gente não olhe e fale: “nossa, é uma mulher vice-presidente!”. Isso não deveria espantar. Esse é o objetivo final.
Eu sei que é uma discussão que deve se colocar em pauta e é importante para que a diversidade sempre cresça. Mas, o objetivo final é que não faça diferença se é homem ou se é mulher. Que sejamos analisadas apenas pela competência, e não gere mais espanto ver uma mulher como diretora do mercado imobiliário, da construção civil. Isso vai acontecer. Vamos chegar lá.
Enquanto a gente precisar ter indicadores para mostrar que a empresa tem um percentual, ou que é a melhor empresa para trabalhar, significa que ainda não chegamos ao final.
Quais são os conselhos que você daria para outras mulheres que estão iniciando sua jornada no mercado de trabalho, especialmente na construção civil?
As oportunidades não surgem, você as cria. Se você tem o foco, faça seu trabalho com dedicação, com respeito ao outro, buscando seu desenvolvimento pessoal. As oportunidades aparecerão. Se você trabalhar pela oportunidade, o reconhecimento vem.
Dedique-se e sempre busque um olhar do todo, mais sistêmico, esta é uma habilidade natural das mulheres, e que deve ser aproveitada como um diferencial. Porque, quando você vira um especialista, você acaba só olhando um único ponto. Tem que olhar para o todo. Qualquer coisa pode ser uma inspiração.
Porque quando você está criando, inovando, pensando, a qualquer momento, um filme, um livro, uma frase pode fazer a diferença no seu trabalho, no seu dia a dia e na sua carreira.
Quais são os momentos mais gratificantes que você teve em sua carreira na construção civil?
Eu tive alguns momentos muito gratificantes na minha carreira. Dentro da Plano&Plano, certamente, foi fazer parte e acompanhar o processo de IPO da companhia.
A abertura de capital é um processo transformador em uma empresa, porque envolve toda a estrutura, pessoas, documentações.
Agora, recentemente, fizemos o processo de virada da marca, outro grande momento, no qual conseguimos materializar o DNA da Plano&Plano, e eu tenho orgulho de ter feito parte desta construção.
Tive outros marcos na companhia que eu tenho em alta estima. Ter sido head da operação da Plano&Plano em Natal (RN) por nove anos, onde lançamos mais de R$ 1 milhão em VGV, além de também ter criado o primeiro feirão 24 horas de imóveis, que foi um sucesso de vendas. São fatos que também marcaram minha trajetória.
Mas, de maneira geral, algo que me gratifica muito, é encontrar pessoas com quem trabalhei, ou ainda trabalho, e saber que fiz a diferença na vida delas, em suas formações, nas carreiras, e que elas prosperaram. É gratificante saber que eu pude fazer parte de uma história.
Como você vê o papel das iniciativas e campanhas como "Mulheres à Obra", da ABRAINC, no apoio e empoderamento das mulheres neste setor?
É um excelente meio de mostrar que há muito espaço para as mulheres na construção civil. Iniciativas como essas, expondo a visão e a trajetória de tantas mulheres representativas no mercado, só tende a incentivar o aumento de nossa presença em cargos de liderança, nos conselhos e nas obras.
Você sente falta de alguma informação/índices que demonstrem melhor a realidade da mulher na construção civil? Se sim, qual?
É um pouco do que mencionei anteriormente, enquanto a gente precisar de indicadores para medir a presença das mulheres dentro das empresas e em cargos de liderança, não chegamos ao ideal, que é ser agênero. De sermos valorizadas e reconhecidas por nossa competência e nosso conhecimento.
Mais do que índices, acho importante ter mais pesquisas que mostrem efetivamente a evolução desse cenário.
Sua empresa possui algum programa de incentivo à contratação de mulheres para promoção da equidade de gênero?
A Plano&Plano é muito comprometida com seus colaboradores como um todo. A Companhia está progredindo na forma de olhar a diversidade. Temos grupos internos, na área de gestão de pessoas e impacto social, que sempre está buscando novos processos de contratação e adoção de políticas institucionais para fomentar a diversidade humana na governança, nos escritórios e obras.
Temos cerca de 42% de mulheres em cargos de gerência, e 55% em chefia e coordenação, no escritório. Em obras, temos 38% de mulheres gerenciando canteiros e 41% na técnica e supervisão. A Plano & Plano valoriza muito a diversidade para criar um ambiente de trabalho equitativo, agênero.
Redação ABRAINC
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