19 de março de 2024
De estagiária a atual presidente da Morar Construtora, Aline Stefanon conta sua história de vida e atuação no setor da construção, na segunda entrevista da 3ª edição da campanha Mulheres à Obra, uma iniciativa da ABRAINC para destacar a presença feminina na construção civil e fomentar a equidade de gênero no setor.
O ano de 2023 foi marcante para Aline: assumiu a Presidência da Morar Construtora e ganhou o Prêmio Líder Empresarial, da Rede Vitória de Comunicação (afiliada Record no Espírito Santo), na categoria “Construção Civil Padrão”.
Mas sua história na construtora capixaba começou muito antes disso: em 1998, entrou na empresa para fazer estágio na área de Segurança do Trabalho, após o primeiro ano foi convidada a continuar definitivamente na empresa, e lá está até hoje, já são 26 anos!
Aline acredita que a participação feminina no setor ainda tem muito a evoluir, principalmente porque o potencial de contribuição das mulheres nesse mercado “é gigantesco, pela enorme sensibilidade, flexibilidade, agilidade e multifuncionalidade”, que tem visto nas mulheres com quem trabalha.
De acordo com ela, a Morar está atenta a essa questão, e possui 27% de mulheres no quadro de colaboradores, mais que o dobro da média nacional da Construção Civil (10,85%). “Além disso, 53% das lideranças da empresa são femininas”, destaca Aline.
A presidente da Morar diz também sentir falta de uma atualização mais frequente dos índices de participação das mulheres tanto nos canteiros de obras quanto em cargos de liderança, elogia iniciativa da ABRAINC, e deixa um recado às mulheres: “Não podemos nos intimidar, nos diminuir, pois isso só fortalece a cultura de que o lado feminino é o mais fraco. Precisamos nos colocar de igual para igual, sempre com muito respeito”.
Confira a íntegra da entrevista a seguir:
Como você decidiu seguir carreira na construção civil? Houve alguma inspiração em particular?
Decidi seguir carreira na construção civil por meio de uma vaga de estágio que surgiu na Morar Construtora. Em 1998, iniciei como estagiária na área de Segurança do Trabalho, que era o curso técnico que eu fazia na época. Além disso, já havia concluído o curso técnico de Edificações e cursava Arquitetura e Urbanismo na Ufes e vi na construção civil a oportunidade de poder colocar em prática os aprendizados dos 3 cursos.
Após o 1º ano, concluí meu estágio e me convidaram para ficar na empresa, explorando novas áreas, como projetos e orçamentos. Com o passar do tempo, fui assumindo mais responsabilidades e sendo promovida a novos cargos dentro da empresa. A partir do momento que ia conhecendo mais esse universo da construção civil, não tive dúvidas do que queria fazer na minha vida e hoje já são 26 anos atuando no setor.
Além disso, tive a oportunidade de aprender com mulheres e profissionais incríveis dentro da Morar, como a Dona Delva, sócia-fundadora da Morar, que foi a única mulher na sua turma de Engenharia nos anos 80 e tornou-se uma grande líder, e também com a Bartira, com quem trabalhei 12 anos diretamente, consolidando minha formação técnica dentro da empresa.
Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao entrar nesse setor?
O setor da construção civil sempre foi muito desafiador, mas felizmente não tive desafios relacionados a gênero, graças ao ambiente inclusivo da Morar.
Hoje possuímos 27,18% de mulheres no quadro de colaboradores, mais que o dobro da média nacional da Construção Civil (10,85%). Além disso, 53% das lideranças da empresa são femininas.
Acredito que o maior desafio que enfrentei na Morar foi construir 2 condomínios de casas em light steel frame. A Morar sempre foi inovadora e buscava industrializar ao máximo o sistema construtivo. Nessa época não existia ainda norma brasileira do sistema e tivemos que desenvolver grande parte da cadeia para nos atender.
Como mulher, qual é sua visão do mercado de trabalho da construção?
Acredito que a participação feminina tem muito a evoluir principalmente porque o potencial de contribuição das mulheres nesse mercado é gigantesco. O % de participação feminina na Construção Civil em 2023 foi de apenas 10,85%, o que me faz concluir que o mercado poderia ser muito mais beneficiado pela enorme sensibilidade, flexibilidade, agilidade e multifuncionalidade que tenho visto nas mulheres com quem tenho a honra de trabalhar e que tornam o terreno fértil para melhorias no ambiente corporativo, relações profissionais mais saudáveis, processos de inovação e visão estratégica.
Quais são os conselhos que você daria para outras mulheres que estão iniciando sua jornada no mercado de trabalho, especialmente na construção civil?
Dê o seu melhor em tudo que fizer, independentemente do desafio ou da tarefa atribuída, tenha comprometimento e dedicação. Questione e sugira, sem medo de propor novas ideias. Esteja aberta para aprender com as experiências dos outros e também para compartilhar seus conhecimentos.
Busque lugares onde você se sinta ouvida, empresas que valorizem suas contribuições e ofereçam boas oportunidades. Ter um ambiente de trabalho que reconheça seu trabalho é essencial para o seu desenvolvimento profissional e bem-estar pessoal.
Não podemos nos intimidar, nos diminuir, pois isso só fortalece a cultura de que o lado feminino é o mais fraco. Precisamos nos colocar de igual para igual, sempre com muito respeito.
Quais são as principais mudanças que você gostaria de ver acontecer no setor para promover a igualdade de gênero?
Desejo que todas as mulheres possam trabalhar em ambientes que não façam distinção de gênero. Que todas possam se sentir à vontade, ouvidas e respeitadas, como eu sempre me senti na Morar.
Gostaria de ver o setor se esforçar para aumentar o número de mulheres no quadro de colaboradores e nos cargos de liderança.
Quais são os momentos mais gratificantes que você teve em sua carreira na construção civil?
Desde a minha adolescência, a minha trajetória profissional e pessoal foram construídas de forma paralela. Assim, não cresci apenas como estudante, estagiária, universitária ou arquiteta. Enquanto cumpria essas e muitas outras funções profissionais, me desenvolvia também no âmbito pessoal, enquanto esposa e mãe.
Tive, e tenho, a gratificante oportunidade de realizar diversos sonhos, ao mesmo tempo em que alcanço minhas metas profissionais. O ano de 2023 inteiro foi de grande reconhecimento, quando recebi o convite para assumir a Presidência da Morar Construtora. Apesar de nunca ter sido uma meta pessoal minha, me senti bastante honrada pelo desafio. Ainda no mesmo ano, recebi o Prêmio Líder Empresarial da Rede Vitória de Comunicação (afiliada Record no Espírito Santo) na categoria “Construção Civil Padrão”, fruto do sucesso e valorização que temos conquistado com o trabalho focado nos valores fundamentais da empresa de integridade e satisfação de toda a nossa equipe.
Você sente falta de alguma informação/índices que demonstrem melhor a realidade da mulher na construção civil? Se sim, qual?
Sinto falta de uma atualização mais frequente dos índices e, principalmente, de informações sobre políticas que deram certo para o aumento dos índices de participação das mulheres tanto nos canteiros de obras quanto em cargos de liderança. Tanto a ABRAINC quanto a CBIC têm trabalhado o tema, divulgando, seja através de videocast, guias e cartilhas.
Quanto mais essa rede se fortalece, divulgando exemplos reais, mais fomenta e inspira novas mulheres!
Sua empresa possui algum programa de incentivo a contratação de mulheres para promoção da equidade de gênero?
A Morar hoje não tem um programa estruturado, mas a equidade de gênero tem acontecido de forma natural e orgânica. Acredito que isso esteja diretamente relacionado à nossa cultura e à empresa familiar. Tudo isso favorece um ambiente de trabalho seguro e saudável que proporciona às mulheres o equilíbrio entre a vida pessoal e suas conquistas profissionais.
Recentemente montamos o Espaço Mamãe Coruja, que é uma sala reservada com o objetivo de proporcionar mais apoio, acolhimento, conforto e privacidade às mães da nossa equipe que retornam às atividades profissionais após a licença maternidade. Também temos uma política de trabalho flexível, que ajuda as mulheres a conciliarem melhor a rotina de casa com a do trabalho.
Essas são algumas medidas já implantadas, mas o trabalho continua. Temos espaço para muitas melhorias para promover ainda mais esse equilíbrio na nossa equipe.
Redação ABRAINC
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