3 de outubro de 2017
Perspectivas e cenário para o setor imobiliário no Brasil
Por DCI – Luiz Antônio França
O Brasil ruma, aos poucos, para a recuperação de um cenário econômico engessado há alguns anos. Para que um país em desenvolvimento e em constante mudança cresça, é necessário transpor os obstáculos e trabalhar para atingir as metas com determinação redobrada.
0 início das mudanças se deu em meados da década passada, quando as grandes empresas e incorporações viveram uma enorme revolução. Muitas se tornaram companhias de capital aberto, investiram em tecnologia e inovação, ampliando seus estoques e ingressando em novos segmentos.
Em tempos de estabilização econômica, o conjunto de fatores foi propício para culminar no fortalecimento de todas as frentes do cenário nacional, com a inflação moderada e a oferta satisfatória de recursos, o que garantiu que todos os segmentos continuassem atuando para gerar os melhores resultados. Para fomentar esse crescimento, em 2004, por exemplo, houve dinheiro injetado em investimentos: da Poupança e do FGTS. O resultado foi um período de crescimento, com empresas atuando para que a qualidade de vida melhorasse cada vez mais.
MCMV,respiro parao déficit habitacional
Mesmo com o aquecimento da economia em passado recente, o país continua repleto de residências desprovidas, até mesmo, de saneamento básico. Um verdadeiro contraponto às mudanças promovidas na última década. O grande déficithabitacional levou à criação do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV], Com ele, entre 2004e2014,o crédito imobiliário cresceu mais de 40 vezes. O número de moradias financiadas aumentou 10 vezes - foram quase 540 mil unidades ao ano. A atuação das empresas de construção civil cresceu, contribuindo para a redução do déficithabitacional no país.
Assim como qualquer outro programa, este também merece aperfeiçoamentos. Nos últimos anos, muitas famílias de baixa renda conquistaram o sonho da casa própria, o que amenizou os problemas sociais. Ainda que o modelo necessite de melhorias, muitas pessoas têm um teto para dormir e acomodar suas famílias graças ao MCMV Ter onde morar afeta diretamente a dignidade humana e o desenvolvimento pessoal, impactando na qualidade de vida dos habitantes.
Com o desenvolvimento urbano em alta, os limites de crédito e opções de financiamento precisaram acompanhar os objetivos de vida dos brasileiros. Dentro desse cenário, a utilização de instrumentos para a obtenção de recursos para o setor habitacional se ampliou e novos programas foram criados.
Com a chegada da crise econômica, em 2014, assim como outros segmentos, o setor imobiliário foi bastante impactado. Embora os programas sociais voltados à população não tenham sido afetados, a indústria da construção foi alvo das mais severas consequências, gerando influência direta e negativa em toda cadeia. Cresceu o desemprego, trazendo estagnação e interrupção no desenvolvimento socioeconómico.
Esse cenário acumulou gargalos em recursos básicos no país, bem como a necessidade de se criar uma administração competente para lidar com necessidades como infraestru-tura, moradia e planejamento urbano. E, é claro, um debate constante por reformas em todos os setores.
Distratos: precisamos discutir esseproblema
Um dos maiores riscos dentro do setor de construção, incorporação e mercado imobiliário no Brasil é o distrato. Desde 2 011, a questão afeta não somente a produtividade, como também a sobrevivência do setor. A quebra de contratos impacta toda a cadeia da construção, profissionais diretos e indiretos, consumidores, setor financeiro e cria uma corrente de mal-estar econômico que toma proporções descomunais.
Afinal, qual o problema real que os distratos trazem para o país? 0 tema ocupa grande parte dos noticiários, mas ainda é pouco conhecido pela maioria das pessoas. A quebra de contratos prejudica a saúde financeira das empresas, atingindo o comprador e toda a cadeia envolvida no segmento da construção. As empresas pagam pelos acordos firmados e são obrigadas, muitas vezes, a interromper as obras por falta de recursos. Algumas delas entram em recuperação judicial, e o mais prejudicado no final das contas é o cliente, que pagou pelo empreendimento e corre o risco de não receber sua casa.
As vítimas dos distratos são muitas. É necessário considerar todas as quebras de contratos para conseguir gerenciar o negócio da melhor forma possível. 0 aumento do problema é, infelizmente, um reflexo do atual cenário brasileiro, que vive uma situação econômica influenciada pela crise e eventual desvalorização imobiliária. Por outro lado, por volta de 2004 quando houve a retomada da economia, o preço do imóvel se valorizou, o que foi um ganho para o proprietário e para a economia.
É necessário termos regras claras que garantam a segurança do negócio, para que rompimentos de contrato não afetem a integridade do empreendimento e lesem tanto as empresas quanto os adquirentes. Essa é a única forma de garantir que ninguém saia prejudicado: incorpora-doras, construtoras, compradores, possíveis clientes, fornecedores e investidores.
LIG: nova estratégia para financiamentoimobiliário
Com o objetivo de ser um novo e importante funding para o mercado imobiliário, chega a LIG - Letra Imobiliária Garantida -, com requisitos para se tornar um marco histórico desse segmento. Mas, afinal, quais as vantagens que diferem este instrumento de captação dos demais já existentes no mercado?
A LIG, que é emitida por um banco com lastro de garantias imobiliárias, possui as características do Covered Bond, e já é bastante usada pelo mercado internacional. O modelo de captação oferece mais segurança ao investidor, pois o papel da dívida é emitido diretamente pela instituição financeira e mantido no balanço. Em caso de insolvência bancária, a LIG, inclusive, está protegida.
Outras modalidades de financiamento têm suas qualidades, mas o cenário ruma para que o crescimento de linhas de crédito como o FGTS, a Poupança e a LCI sejam cada vez menores, não suportando a demanda atual. Hoje, a correlação do crédito imobiliário sobre o PIB é de 9,8% e tem potencial para em médio e longo prazos alcançar 2 0 %. Esses instrumentos já tiveram sua vez, desempenharam um papel importante no mercado e estiveram à frente como as principais linhas de financiamento disponíveis. O país enxerga a necessidade de um modelo que respeite a queda de juros que todos procuram, com capacidade de oferecer crédito por um preço cada vez mais acessível.
O próximo ano deve começar com a retomada do fôlego para o setor, devido à melhora do cenário político-eco-nômico. A recuperação do mercado de construção civil, com lançamentos de imóveis e vendas dentro do mercado imobiliário deve ser uma realidade em 2018. Em 2016, tivemos o lançamento de 69.800 unidades de empreendimentos pelo país, um crescimento de 9% em relação ao ano anterior, em 2015.
Arecuperação acontece aos poucos e está intimamente conectada a três fatores principais: redução de taxas de juros, baixo nível de desemprego e marcos regulatórios adequados. Isso influencia, também, a confiança do consumidor na hora de comprar.
A LIG chega dentro de um cenário otimista para impulsionar o crescimento do mercado imobiliário, ajudando a aumentar o volume de crédito disponível para que o setor continue em constante aprimoramento. A novidade é, sem dúvida, o futuro desse segmento. A modalidade oferece a garantia privilegiada com taxas atrativas e isenção tributária às pessoas físicas, ou seja, desenvolvimento constante, com facilidades na regulamentação e aumento do volume de crédito destinado à atividade imobiliária. O crescimento é palpável e será realidade no longo prazo dentro de um país onde é necessário ter respiro econômico para melhorar em todos os sentidos.